Boogaloo Riot- Episódio 4

A minha mãe diz que nos anos 90 acontecia tudo muito depressa.

Visto que nasci na segunda metade dessa década caricata, em que o nosso jardim à beira-mar plantado cheirava a heroína e a Gold Strike, as camisas de flanela que vi já pertenciam a malta do nu-metal.

Talvez para compensar isso, passei muito tempo a fazer uma dieta musical estrita de Elliott Smith, Teenage Fanclub e Dinosaur Jr.

 Mas nada se compara ao efeito que o Brighten the Corners, quarto álbum dos Pavement, tem em mim.

Uma hora de puro êxtase. Todas as malhas são fantásticas.

“Glance, don't stare/ soon you're being told to recognize your heirs/ no, not me/ I'm an island of such great complexity/”

A voz do Stephen Malkmus parece desenhada para cantar inabilidades, desamores e tristeza resignada ao sarcasmo. Mas Brighten the Corners não é um disco triste.

As guitarras, com frases melódicas típicas da banda californiana, complementam-se neste disco com uma produção mais 'limpa', mais instrumentos e uma vibe muito orelhuda.

As letras não são tristes, pelo menos não no sentido normal da palavra tristeza, apesar de algumas terem uma carga de nostalgia ou amargura.

Estas canções são um hino ao crescimento humano, um elogio ao jovem adulto, uma fase que o Luís Severo (muito bem) descreve como “Estes vintes que nos sabem a velho”.

Podia dizer-se que o segredo está nas baterias, ou no som das guitarras, na composição das canções (p.e. Date w/ Ikea) ou nas letras magnificas.

Podia dizer-se que este disco é o momento Beach Boys dos Pavement, que é uma aventura da banda pela pop, que nos discos posteriores exploraram conceitos mais profundo e tinham um som mais cru.

Mas a verdade é que há discos que não são feitos para ser crus. São feitos para nos tocarem.

Será que alguém que não se sente tocado a ouvir a Embassy Row?

Será que alguém tem coragem de dizer que gostava de ouvir mais granel na Starlings of the Slipstream?

Será que há por aí alguém que ouviu este disco e pensou: “meh, não está mal...”?

Bem me parecia que não.