O novo álbum dos Alcest, Les Chants de l'Aurore, que surge em seguida a Protection de 2019, contendo um número relativamente reduzido de músicas - sete no total - vem na mesma onda sonora do anterior.
"Komorebi", a faixa de abertura do álbum, é uma composição etérea em que as cordas de sintetizador criam instantaneamente uma atmosfera onírica, à qual a banda nos tem acostumado. De relevar, no entanto, esta dimensão onírica que tem vindo a estar presente em Alcest. O nome do álbum sugere no entanto um certo nível de colaboração entre o Japão e Neige, prosseguindo assim a ligação que podemos testemunhar no seu quinto álbum, Kodama. A faixa "L'enfant de la Lune" evoca as influências japonesas tão próximas do seu criador Neige. O ouvinte é colocado, quase que empurrado, para um ambiente surrealista pelos sons de abertura da guitarra, que são complementados por instrumentos de corda mais clássicos e um efeito de pedais de guitarra de delay, relembrando a sonoridade shoegaze e doom. De notar que existe um afastamento da sonoridade Doom, com a banda a reavivar uma certa atmosférica sonora do seu álbum de 2014 Shelter, criando um mix entre os seus trabalhos prévios.
Músicas como “L’envol” e a previamente mencionada “Komorebi” captam perfeitamente esta fórmula onde as guitarras e a sua distorção criam um diálogo verdadeiramente simbiótico com a bateria, e em que as músicas revelam um crescendo que culmina numa explosão sonora no final. “Améthyste” regressa com o som repleto de gritos e riffs de black metal que os fãs do género vão apreciar e assim relevar o facto de Alcest nunca ter perdido a sua origem.
"Reminiscence" é, sem dúvida, a música outsider do álbum, com o seu carácter invulgar, um interlúdio de piano e cordas, e a melodia sempre apoiada pela voz de Neige ao fundo, cujas notas se estendem por várias batidas de bateria, concedendo-lhe uma sensação introspectiva e emocional. A voz única de Neige, presente em todas as músicas, dá nova luz sobre o álbum na sua totalidade, ao mesmo tempo que nos transporta para um ambiente bem conhecido pelos ouvintes de Alcest.
Os Alcest continuam a elevar a fasquia com “Les chants de l'aurore”, que é um triunfo. Este disco constitui uma evolução nível da sua sonoridade original. Com efeito, os dois membros da banda têm um talento para fazer música que é difícil de ignorar e que nos atrai com cada novo álbum que criam. Les chants de l'aurore é uma declaração honesta e crua da alma que não hesita em partir-nos o coração com a reflexão que causa no ouvinte nos momentos apropriados.
Texto: Mário J. Avelar