18 Sep
18Sep

Luís Teixeira


Alek Rein é muitas vezes elogiado por criar um mundo alheio, no entanto, fez algo muito superior a isso, algo que poucos alguma vez conseguirão fazer: recuperar décadas essenciais e trazê-las de volta para o nosso século.

Mirror Lane é tão sombrio como inocente, tão doentio como indiferente. Uma viagem alucinante e esclarecedora, que começa num rio que ele lhe chama o rio da perdição, sendo a música alegre e sorridente, à primeira vista, parecendo uma contradição. Mas o disco continua a distorcer-se de faixa para faixa, contorcendo-se numa espiral de acidez e psicadelismo esquisito mas tragável e acima de tudo suportável. "Mirror Lane*" é um casto de virtuosismo e uma constante retro, da bateria ao fuzz, do psicadelic garage ao punk, Alek funde tudo aquilo que ouviu numa fonte de criatividade audível e sempre comparável. A viagem vai ficando menos nítida mas sempre esclarecedora. Alek fala de imortalidade, perda, e irmandade: "In our pack of wolves we don't carry the shame, We know each others' bodies better than our names", no funky "Pack of wolves".

 "Vermillion Bird Of The South" ou "Magic Fiddle" são outros hinos ao country/americana, mas é na última faixa que encontramos algumas pistas sobre este personagem: "Tigerskin/Triple Divide Peak" revela Alek Rein como um psicopata em busca de redenção e de uma nova chance junto de alguém que considera especial. A distorção, o eco dos vocais no refrão grungy elevam Alex, impossibilitando qualquer pessoa de contestar aquilo que ele diz: "Could tell you stories you couldn't follow, I could get you food that you couldn't swallow (...) I could tell people about your true self", no entanto é no seu pico de experimentação que Alek Rein revela-se um ser humano. Sensível e acessível.

É precisamente por se ter dado a tanto trabalho que "Mirror Lane" merece ser recordado. Nada disto seria conseguido se não tivesse excelentes músicos a tocar com ele (Guilherme Canhão- baixo e Luís Barros-bateria) mas a escrita alienada e quase mentecapta de Alexandre tornam-no num dos compositores mais brilhantes desta fantástica nova geração de artistas portugueses. Um segundo disco ainda mais excêntrico que este vão torná-lo no líder dessa matilha.


*Mirror Lane, a terceira faixa do disco.

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