Em 2011, Filipe da Graça estreou-se com um álbum com o mesmo nome. Durante esse período fez parte da primeira vaga de indie rock cantado em Portugal e viveu em Lisboa, nomeadamente na Graça. Passou a fazer parte da ilustre editora Flor Caveira e colaborou em canções com artistas como Os Pontos Negros, Filipe Sambado, Samuel Uria, C de Croché, Silas Ferreira, Deserto Branco entre outros. Prosseguiu o seu percurso em Londres, onde viveu e actuou durante mais de dez anos lançando então os cds Pequeno-Almoço Inglês e o sempre nostálgico Quando É Que Voltas Para Casa? .
Agora, de regresso a Portugal, convida os seus velhos e novos amigos para celebrar os dez anos desse mesmo primeiro álbum. Esta compilação comemorativa, intitulada Amigues com Graça, homenageia o álbum que lhe deu início Filipe da Graça LP.
Cada música ganha assim uma nova dimensão com cada intérprete convidado, dando o seu toque pessoal sem que estas nunca percam a sua essência original. O facto de haver tantos e tão diversos músicos a contribuírem para esta coletânea não é de estranhar, devido à qualidade não só do trabalho original mas da própria produção, algo que, apesar de Portugal ser um país à beira mar com poucos recursos, o trabalho independente e acima de tudo a nível de rock, ainda é possível de concretizar.
Nesta coletânea é de notar, não só a originalidade concedida pelos colaborantes, como em músicas como a da faixa inicial, “Numa Garagem à Beira-Mar”, na qual a versão electrónica de Te Voy A Matar, contrasta com a original, onde as guitarras e também os restantes instrumentos dão ao álbum uma sonoridade clássica de rock de garagem de quem pega na sua guitarra e começa a improvisar no seu instrumento. Aqui o som eletrónico dá o mote para o resto deste álbum de versões. Logo a partir do primeiro momento fica-se com a sensação de não se saber o que se vai ouvir em cada uma das novas músicas. Esta sensação face ao que irá surgir pode criar inquietação, mas acima de tudo o que suscita no ouvinte é a expectativa tendo em conta os nomes dos convidados aqui presentes.
Salienta-se aqui três músicas desta coletânea "PAL" com a versão de Luís Severo & Casa Xangai, contrastando de uma forma inesperada com a original, onde as guitarras e a sonoridade Lo-fi Yo La Tengo estão deveras presentes. A versão dos intérpretes dá uma nova alma à música com o aventurar em campos do shoegaze, rementendo o ouvinte mais para o imaginário de My Bloody Valentine ou Lull do que para Filipe da Graça. Em “Montanha” por Uran Apak os sons do electrónico e dos jogos sonoros que estes possibilitam rementem-nos para trabalhos de artistas como Fad Gadget ou Jean-Michel Jarre, colocando o ouvinte em contemplação não apenas face ao teor da música, mas também àquilo que será o original.
Todas estas versões não fogem do estilo da original, pois o que está aqui em causa é um tributo ao trabalho, e neste sentido deve-se relevar a versão de “Portobello” feita por Tiago Cavaco e Samuel Úria, na qual não se limitam a um belo tributo, com as suas guitarras e as suas vozes características, mas ao mesmo tempo se mantém dentro da linha do rock cru a que nos têm vindo a habituar, criando neste sentido uma ligação curiosa entre o passado e o presente.
Texto: Mário J. Avelar