15 Mar
15Mar

Miguel Pinto


Logo pelo título, The Invisible World of Beautify Junkyards, podemos ver traços de ambição. Definir um álbum como um mundo é algo que só consegue fazer jus ao título dificilmente, é preciso um som único, que defina o album ou, neste caso, até a banda.

Beautify Junkyards conseguiram isso e muito mais. Lançaram, podemos já antecipar, um dos grandes álbuns do ano.

Todo o disco é pontuado por instrumentais luxuriantes, dum psicadelismo delicado e barroco. Comecemos por Ghost Dance uma faixa vaporosa, orquestrada (ouvimos flautas, guizos, percussões celestes) e banhada em reverb, como uma assombração, que nos impõe um tom de mistério para a viagem que se avizinha; de seguida Sybil’s Dream, duma melancolia à Massive Attack, isto se trocassem a eletrónica pelo acústico. É de referir também Half Marble, uma faixa de uma sensibilidade atónita onde tudo parece alinhado de forma perfeita, e sobretudo original: samples misturados com guitarras acústicas, sintetizadores luminosos, guitarras em pulsação e uma voz etérea, tudo ingredientes para o deslumbre. Aquarius, o single do disco acaba por ser uma faixa mais notória ou catchy não se prendendo ao etéreo do resto do disco. Ainda assim, a sua abordagem mais eletrónica à tropicália, acabam por dar-lhe um cunho interessantíssimo, a pender para Bruno Pernadas. Por último, é de mencionar Cabeça-flor, uma faixa onde apesar da melodia vocal se tornar redundante a dada altura, o seu timbre acaba por reforçar a guitarra flutuante, que nos deixa a pairar numa manhã qualquer.

Além disto, todo o design à volta do álbum acaba por destacar ainda mais a sua atmosfera e inquietude. Porque apesar de atmosférico não poderíamos dizer que este é um álbum melancólico: The Invisible World of Beautify Junkyards, acaba por ser contraditório porque é a sua estranheza que lhe dá beleza, esta muito devido à riqueza instrumental e criativa, e o que poderia acabar por cansar, se acabasse por se transformar na típica melancolia melosa, neste caso mantêm-nos cativos.

Como pontos negativos poderíamos dizer que o álbum tem demasiadas faixas e algumas sem grande “utilidade”, por exemplo Manhã Tropical que apesar da sua beleza inerente, sobretudo a nível vocal, soa inacabada, além de as canções acabarem também por surpreender menos perto do final.

De qualquer maneira, os defeitos não são suficientes para que deixemos de considerar The Invisible World of Beautify Junkyards, um título demasiado honesto para o que realmente aqui se ouve.




Comentários
* O e-mail não será publicado no site.