03 Nov
03Nov

Bruce Waves é simplesmente falando uma daquelas bandas que se ouve uma vez e percebe-se logo o que andaram a ouvir. Mas o mais surpreendente de tudo é o porquê de tanto tempo nas sombras se Portugal tem cada vez mais vindo a perder algum do seu fulgor na música rock garageira, e punk mais especificamente falando, para que grupos como estes vindos de sítios longínquos como Polónia possam regressar ao seu país natal para afirmarem-se e para que esta estreia discreta mas bombástica de Bruce Waves seja a prova disso mesmo, um disco rock do início ao fim, sem ângulos mortos, apenas boa eletricidade do início ao fim. "These Walls" presenteiam-nos constantemente com uma performance sagaz e crua, guitarras fuzz com um sabor a batom que lembram por exemplo versões mais animalescas de Yeah Yeah Yeahs ou a banda fictícia do filme "Scott Pilgrim Contra o Mundo", os Black Sheep. Tudo odes ao garage, indie rock de 90's para cima com um gosto cultivado por arena rock... "Hide and Seek" lembram-nos vários universos de speed metal ambulantes, e sente-se intensamente uma sinestesia entre a percussão e as guitarras para depois os vocais de Ana Rita serem como uma cereja no topo do bolo, e as guitarras parecerem quase como um baixo recheado de fuzz ou drive que atiçam as malhas, desnorteando-as para um som ruidoso... Um bom tipo de ruído. Os ganchos são sofisticados o suficiente para soarem a algo que uma banda de brit pop poderia fazer se não tivesse tanto ou mais interesse em vender discos que a sua editora... Continuando no topo da tracklist, "Here We Stand" parece ser o grande hino que a banda pode levar a uma rádio que se preze em ser rock friendly, as próprias artimanhas sónicas ecoam a algo que por exemplo uma banda de nu grunge orgulhar-se-ia muito de conseguir gravar em estúdio. Mesmo nos momentos mais eco como "Driving Around" há um certo espírito de tenacidade a pairar no ar, à espera do timing certo... A própria intro de "Avenue" relembra algo retro Pearl Jam, mas os vocais de Ana Rita ditam sempre uma elasticidade pop na hora de preencher os hooks. Para terminar com a fuzzenta "Red Light" e a ainda mais hardcore que a anterior "I'll See You". Há uma presença vocal irreverente e um estaticismo instrumental que faz de "Bruce Waves" uma estreia compreensível, mesmo para uma banda que aparenta ainda estar em jet lag linguístico mas que para todos os fins é uma estreia ambiciosa que coloca algum tipo de dúvida sobre esta banda em stand by e que inesperadamente eleva um pouco mais a fasquia da coisa.

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