22 Sep
22Sep

Luís Teixeira


Um Poema. O Disco começa com um poema, não seria Bruno um fanático por boa leitura, depois de um letreiro que leu em Florida e um documentário sobre crocodilos, de onde surge o título do seu muito aguardado follow up depois de “How Can Be Joyful In A World Full Of Knowledge”. É uma continuação na verdade, Pernadas continua a brincar com o Jazz e o Psicadélico como se estes fossem feitos um para o outro, manipulando elementos clássicos do jazz com elementos modernos do rock com uma facilidade tremenda e jogando com a sensibilidade e leveza do vocal feminino com a virilidade e frieza do vocal masculino, inventando instrumentos vocais como ninguém. Toda esta facilidade em tecer arranjos inconvencionais sobre mais de 10 instrumentos fazem de Pernadas um maestro.

“Those Who Throw Objects at The The Crocodiles Will Be Asked To Retrieve Them” é uma almofada de géneros fundidos, deitados numa ternura e conforto sonoro que já nos têm habituado nas suas gravações. Só podia ser uma continuação, todas as melodias são alegres e reconfortantes, embriagantes moderados mas sempre sóbrios na perceção das canções…

 Começando pelo jazzy “Spaceway 70” e aí o groove contagiante dita todo o ritmo do disco. Do saxofone para o piano, da bateria pulsante e baixo vibrante cheio de repetição e anomalia até à flauta transversal… Todos estes instrumentos acasalam e dão à luz um pandemónio harmonioso sobressaídos pelos vocais passarinho de Margarida Campelo, cujo suas contribuições ao longo de todo o disco atingem um padrão elevadíssimo.

 Até ao country acústico, campino e rural “Problem number 6” com mais arranjos vocais exemplares de Margarida. Com mais elementos clássicos e a guitarra bossa-nova, aqui observamos as primeiras experimentações sintetizadas de Pernadas que intensifica o instrumento mais tarde no disco. Numa moldura progressiva a faixa continua em “Valley In The Ocean” como se nunca tivesse acabado. Uma produção e mixagem topo.

 Canções falam de histórias passadas em períodos de tempo distintos mas que interligadas revelam momentos, tudo fruto do imaginário de Bruno, que concretiza uma ideia sobre uma orquestra sincronizada e feita para recriar esse universo que só residia na sua mente.

 O disco vai flutuando de faixa para faixa até chegarmos ao smooth e mavioso “Anywhere In Spacetime”. O sintetizador de Bruno começa a surgir nestes momentos mais essenciais numa paralisia aconchegante e satisfatória. A guitarra surge como meio de repetição. Esse tipo de psicadelismo, nada garageiro ou inconvencional, só novos padrões que Bruno incuta na sua gravação para que esta se torne num sonho ao qual nunca queremos acordar, algo que nos faça levitar… Margarida volta a traduzir toda esta fantasia: “Anywhere in Spacetime, Anyway You Found Me, Anywhere In Spacetime, Ill Be On The Moon Above You”…


O disco continua a afogar-se num riacho de desconforto emocional e fraqueza espitual misturada com franqueza verbal. Essa honestidade e fragilidade por vezes são melhores exprimidas em instrumentais tímidos e subtis que vêm em forma de interlúdio, em “Because It’s Hard To Develop That Capacity On Your Own”. O misterioso e repleto de suspense “Galaxy”, o sampled “Ya Ya Breathe” volta a fundir os vocais de Bruno e Margarida num só esforço melódico e ternurento para terminar com o amargurado e penoso “Lacrymose”.


“Those Who Throw Objects At The Crocodiles Will Be Asked To Retrieve Them” é um disco conceptual, que reúne toda a sabedoria, conhecimento e teoria musical de Bruno Pernadas numa prática complexa, idealizada e de difícil execução. No futuro, não imagino ninguém a querer misturar o Jazz com o Psicadélico sem ter este disco na sua prateleira.

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