30 Nov
30Nov

Luís Teixeira


Estreia de Clementine chega a superar algumas expetativas. Existe um esforço melódico no vocais de Shelley, isso fundindo com o fuzz/distorção que ela mesmo incuta em várias estâncias de Clementine, à exceção de "Streetwalker" em que o baixo é  mais notório do que a guitarra. O punk não é tão feroz e implacável como pensávamos, existem algumas variações melódicas inevitáveis, não fossem os vocais femininos, portanto o EP não é um frenesim de caos do início ao fim, "Tiger" assemelha-se muito a um punk vintage (quase a roçar o new wave), curioso porque o esforço foi gravado com Gonçalo Formiga (Cave Story) que apresenta registos muito semelhantes como se pode ler aqui. Os vocais de Lena Hurácan também dão um ar surfy aos já violentos e rápidos acordes de Shelley, ela aparece também em "Hell On Wheels". Tudo antes do melancólinco e grungy "Monga", aí é que vemos até onde estas duas personas conseguem ir. Repetição, psicadelismo através de repetição, e mais referências à "mulher" como ser predominante, não haverá melhor faixa que esta em todo o EP. A "mulher" volta a ser mencionada à medida que Shelley continua a recitar poemas escritos sobre feminismo, descoberta e misticismo em "Absolute Demolition" e a subtil e groovy-cool "Street Walker" fecha o EP que serve de prefácio: "I am searching"... 

Tiger é o cartão de visita que Clementine precisava. Não vale a pena entrar em muitos detalhes, nem cerimónias, nós já sabíamos que elas eram boas, o EP serve meramente para servir este novo e empolgante som numa bandeja onde qualquer pessoa pode atestar, talvez a natureza pobre das primeiras gravações não tivessem chegado aos ouvidos mais comuns e menos habituados a latências e oscilações que são muito comuns em gravações lo-fi, que nós tanto adoramos.  No fundo "TIger" é um upgrade de "Bobadela", perde-se alguma genuinidade e carisma mas continua a ser Clementine, em carne e osso, todos os elementos estão lá. É também o início de um novo ciclo, por já termos ouvido muitas canções de "Bobadela" aqui, estamos muito curiosos para ver aquilo que a banda pode inovar num futuro longa duração.

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