18 Apr
18Apr

Miguel Pinto


É um bocado estranho esta review só estar a sair agora. Mas, na verdade, sempre mais vale tarde que nunca, ainda por cima tendo em conta o disco em questão, Adoro Bolos, o segundo de Conan Osiris, a nova sensação da música nacional, e o que o trouxe para a luz da ribalta. Gostamos de pensar que só saiu agora porque tivemos demasiado tempo a ouvi-lo (até que é verdade).

Adoro Bolos é um álbum que navega entre a tragédia e a comédia, e é na junção destes dois mundos que Conan Osiris desenha este seu paralelismo: veja-se a primeira faixa, Borrego, de beats recortados e detalhadíssimos prontos para incendiar qualquer pista de dança, mas onde Conan nos conta que é borrego, num pranto sofredor mas hilariante, a remeter tanto para o fado como para a música cigana, numa mescla inclassificável. É esta unicidade que acaba por definir Adoro Bolos, isto se houver uma definição possível.

Não há faixa neste álbum que não se destaque: desde Nasce nas Acucenas onde o tarraxo culmina em folclore bollywoodesco, Ein Engel onde os sintetizadores eurodance desaguam num metal demasiado fabricado, que por sua vez culmina num tarraxo primaveril, 100 paciência onde aparece uma maior negritude, num banger implacável onde as influências orientais, incluindo tesouras como percussão a meio da faixa (será?), culminam num apoteótico refrão trap, Titanique, que se inicia num vira discreto e eletrónico de um baixo profundíssimo (tal como a situação do Titanic?) mas que revela totalmente a sua potência na segunda metade da faixa e Avé Lágrima, onde a tragédia é acentuada ao nível máximo mas onde resulta uma das mais poderosas faixas do álbum, principalmente devido ao melodioso grito, na primeira metade da faixa e no final, que nos transporta para uma melancolia estranha mas ao mesmo tempo famíliar, quase a lembrar os filmes da Disney, e o clima indica-nos que estamos a chegar ao fim do álbum. Resta-nos Obrigado, uma dramática faixa que encerra o álbum com a dramatismo que carregou.

As letras de Conan primam também bem excentricidade (num bom sentido obviamente) com a comédia duma era pós-internet, mas a assertividade implacável no uso da palavra, ouça-se Celulitite, um hino a quem tem mania que tem celulite, e onde os jogos de palavras são disparados até ao limite do trava línguas, ou veja-se até o simples aportuguesamento de alguns títulos de canções, como por exemplo Titanique, ou o trocadilho em 100 paciência.

Como já devem ter reparado descrever a música de Conan Osiris é enumerar géneros e influências. A sua música é inclassificável, é original, é nova. É um mundo aparte, uma reinvenção do pop em Portugal. Poderíamos apontar referências internacionais que podem remeter para a sua música tais como Tommy Cash, que consegue também misturar bastantes géneros, numa música que prima também pela comédia, ou nacionalmente, como toda a gente já referiu, o nome de António Variações, mas nada disto é justo.

Defeitos que se poderia apontar a este álbum é o facto de algumas vezes os vocais de Conan não terem a força que deveriam, ficando um pouco presos ao reverb exagerado por exemplo em Ein Engel ou Titanique, o suposto metal de Ein Engel, ser demasiado eletrónico para adquirir o peso desejado e ainda a duração de algumas faixas, por exemplo Borrego, que apesar de extremamente sólida, prolonga demasiado o seu refrão, ao longo da sua duração.

No fim de contas, acho que acabamos por dizer o que toda a gente já disse sobre Adoro Bolos e sobre Conan Osiris. Mas a verdade é para ser dita.

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