14 Mar
14Mar

Miguel Pinto



American Utopia é o primeiro álbum de David Byrne em nome próprio, sem colaborações, em 14 anos. O disco cujo conceito é o de tornar a nossa sociedade um pouco mais feliz, mostra positividade e alguma crítica política sempre com metáforas que apesar de surreais, apelam a uma certa familiaridade, tal como costuma ser regra na escrita de Byrne.

O disco arranca com I Dance Like This, uma faixa dum belíssimo piano esperançoso, mas que perde um pouco o rumo com o break industrial a cada refrão; segue-se Gasoline and Dirty Sheets, uma canção mais crítica sobre os podres da nossa sociedade, com algum foco no facilitismo recorrente da mesma, e com um lindo e imprevisível solo de acordeão; depois Everyday is a Miracle, uma das melhores canções do álbum, com o refrão mais alegre que ouvimos nos últimos tempos e um épico canto final como quem brada aos céus. 

Honestamente, poderia descrever todas as canções do álbum porque todas têm algo especial: Dog’s Mind, uma reflexão sobre a vida, num tom melancólico; Bullet onde é retratado o percurso de uma bala pelo corpo de um homem; ou o hit Everybody’s Coming to My House, a lembrar os antigos Talking Heads e com a instrumentação com o dedo de Brian Eno (tal como em todas as canções do álbum) que além de catchy, parece vir em todas as direções.

É de referir que o som neste álbum além de se apresentar mais eletrónico do que o que é costume em Byrne, tem algumas inspirações orientais, por exemplo no ínicio de Gasoline and Dirty Sheets ou em This is That, cujo beat foi de Oneohtrix Point Never, o que além de dar ao álbum um caráter mais universal, reforça o futurismo retalhado de algumas faixas.

A respeito de falhas poderíamos apontar a primeira canção, I Dance Like This, que fica um pouco aquém das restantes do álbum e o coro no refrão de It’s Not Dark Up Here, que soa demasiado desleixado (apesar de se perceber que faz parte do objetivo).

Resumidamente, podemos ouvir outra reinvenção de um dos maiores compositores americanos (mas que na verdade é escocês) vivos, e que pelos vistos não dá sinais de abrandar. Aleluia!



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