13 Apr
13Apr

Miguel Pinto


Filipe Sambado é um compositor multifacetado: além de produtor nos early days da Cafetra, e em mais mil e um projetos, fez parte de bandas como Cochaise ou Chibazqui, além da sua carreira a solo. Neste seu segundo álbum, parcialmente homónimo, Filipe Sambado E os Acompanhantes de Luxo, Sambado parece ter ido buscar as suas influências muito mais aos seus outros projetos e produções, do que propriamente, por exemplo, à sua carreira a solo, apesar de ainda haver alguma riqueza instrumental do anterior Vida Salgada, mas numa estética, diríamos, completamente oposta. Isto constata-se pela produção punk e noisy que rodeia grande parte das faixas do álbum, mesmo quando estas não pedem tal coisa: vejamos Dá Jeitinho, um vira muito orelhudo com guitarras ora mathy, ora distorcidas, estas últimas, que apesar de concederem alguma textura, soam desnecessárias na qual poderia ter sido uma canção pop imaculada; ou mais notoriamente Em Paz, uma bonita canção (pelo menos até dada altura), com destaque para a suavidade da bateria e o poderio meloso dos coros que preenchem cada refrão, mas que no final, com o crescendo em high pitch, apesar de valorizar o enorme risco aqui cometido, a decisão não deixa de roubar alguma da honestidade e beleza da faixa, para a substituir pelo que parece ser um cover qualquer do Alvin E os Esquilos.  Onde esta produção se verifica mais eficaz é em canções como Onda, dum rock pesado e contagiante, mas que ao mesmo tempo é pouco realçado pela voz de Sambado, que pede um registo mais suave, além da letra, comparando com as restantes do álbum, deixar algo a desejar; ou em Só Beijinhos, uma faixa ritmicamente rica, com teclados, bateria e guitarra em função conjunta, e uma das mais bem conseguidas canções do álbum, juntamente com Deixem Lá onde nos é apresentado Sambado, indiscutivelmente, num pico lírico: devemos estar perante um dos melhores refrões pop nacionais dos últimos tempos, tal a honestidade e clareza com que tudo nos é apresentado. Temos ainda Dono da Bola, que remete automaticamente para (o desapontante) Domingo à Tarde de Éme, tanto pela melodia e som dos teclados como pela própria entoação no cantar de Sambado, e Mentol, uma faixa com riqueza instrumental alá Vida Salgada, e um dos raros casos em que a produção mais desgarrada acaba por favorecer a faixa, com a belíssima influência vocal a pender para Vaiapraia, antes do último refrão. No fim de contas, Filipe Sambado e Os Acompanhantes de Luxo, é um disco que poderia agradar mais a um fã dos primeiros tempos de Sambado em Cochaise ou Chibazqui do que propriamente a um amante da sua carreira a solo, porque apesar de alguns bons méritos pop, o todo acaba por soar desleixado, demasiado rock após a luxúria sonora que foi Vida Salgada. Soa a recuo, mas a verdade é que não deixa de ser um álbum de Sambado.


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