27 Sep
27Sep

Luís Teixeira


Produzido por Makoto Yagyu e Fabio Jevelim (PAUS), assistido por Miguel Abelaira (Quelle Dead Gazelle), gravado no Haus (Linda Martini), "Pensar Faz Emagrecer" é uma viagem alucinante onde o ritmo, a cor e a atmosfera das suas canções tornam-na numa audição miraculosamente bem concebida. O ritmo como forma de linguagem sofre metamorfoses de segundo para segundo. O clima apático, enervante e metódico estabelecem um clima pavoroso e intimidante.

Do caloroso e melódico "Sabine" com uma ponte neo-jazz impressa por teclados estreitos e apertados, aqui o baixo e a bateria são fulcrais no desenvolvimento da canção, que se estica em "Tokutum". Aqui os esforços rítmicos são mais visíveis, a bateria não falha um ritmo, de tal forma sincronizada que o baixo só trabalha de forma melódica. Os ghost sinths fazem lembrar Crystal Castles mas é sempre na bateria que a música viaja. É verdade que as guitarras estabelecem o clima sinistro mas é na bateria que encontramos alguns dos momentos mais impressionantes do ano, tanto a nível sonoro como a nível estético. A explosão de "Tokutum" é alimentada pelos pratos, embora o ambiente impulsionado pelo reverb da segunda guitarra (Miguel) inventem esse mundo que já começava a ser desenhado em "EP5".

Todas as influências de Galgo, embora omitidas pelos mesmos, são audíveis e bem captáveis, embora sejam sonoridades raras e quase impossíveis de rotular, eu não me atreveria. "Skela" é um frenesim de contingência veloz e voraz. Mesmo quando a guitarra eleva o ritmo é impossível fazê-lo sem ser a bateria a ditá-lo. As ascendências africanas e tribais são incontornáveis. 

Mesmo nos momentos mais pacíficos conseguimos extrair a essência criativa por trás do som de Galgo, como em "Lugia", outro abafo desconcertante e repleto de repetição e serenidade que reflete sobre a azáfama de faixas anteriores... Mas tudo isso acaba, porque são nas faixas mais longas que devoramos todo o potencial experimental da banda, como em "Balanço", um clima obscuro, duas guitarras absolutamente desvairadas e um baixo que limita-se a segui-las. Um autêntico festim de revolta misturada com pura inquietude sonora e um desarranjo total de instrumentos que entram num conflito de imprevisibilidade e experimentação sonora. Aqui observa-se de forma óbvia todo o potencial da banda. Curiosamente no último minuto a bateria soa a uma nova canção de Paus, abençoada por mais guitarras esquizófrenicas e hiperativas, repletas de mais manipulação de pedais e uma bateria groovy parece encontrar a sua derradeira paz nos últimos segundos.

"Pivot" é só outra prova do eterno casamento entre o baixo e bateria, dois elementos rítmicos absolutamente cruciais e o disco termina com outro épico delay-drenched "Goya", com mais arranjos exuberantes e mais duelos heróicos entre bateria e baixo vs guitarras, sendo que todas cooperam na construção das canções, estas guitarras ocasionalmente aliadas pelo sintetizador e desfragmentação de pedais que inventa atmosferas engenhosas e altamente imaginativas...

Toda a produção, todos estes instrumentais são canções sólidas, emotivas e protagonistas de um teatro sonoro absolutamente alheio. Sem espelhar ou disseminar as suas influências, Galgo conseguem um conjunto de canções que são tão sensíveis como intensas, que são tão profundas como são minuciosas... Uma audição tremendamente singular e absolutamente impossível de igualar.

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