30 Nov
30Nov

Luís Teixeira


Já andávamos a observar este projeto de quarto desde as suas primeiras manifestações, quando Ghost Hunt gravaram o programa "No Ar" da Antena 3 percebeu-se um bocado o potencial de live act que a banda tinha, sendo que tocaram ao longo de todo o ano com Edu Matracas na Tecla Tónica, mesmo sem um trabalho que era quase exigido por toda a gente que ouviu Ghost Hunt no primeiro lugar.

A realidade é que este primeiro trabalho parece ser uma obra dos Deuses, a cada segundo de audição parece que o som catapulta de galáxia em galáxia, o poder da repetição exaustiva através de loop, os beats uptempo... Cada faixa de "Ghost Hunt" parece ser uma nova expansão imensa de som que só podia ser ouvida por seres extra-terrestres. Música de uma natureza esquizófrenica, autista e altamente peculiar, mesmo em termos estéticos como em "Games" que não é só um título, mas sim uma chave. "Ghost Hunt" salta logo à vista um universo arcade repleto de cor, emoção, pânico, adrenalina... Todas estas emoções pintam um quadro abstrato mas sempre focado na luz e na sua expansão, uma metamorfose que pode evoluir para uma supernova como pode regredir para um universo escuro e totalmente inexplorável. 

Mas não é só através do psicadelismo. O ritmo também chega a ser outro condicionante alucinogéno. Ghost Hunt infiltra-se em todas as vertentes, tanto do rock num baixo de Chau absolutamente irrepreensível como nos sinths de Pedro que são autênticas jornadas virtuais, imprevisíveis, sensíveis e imaginativas, faixas que tanto cabem num videojogo retro japonês onde o objetivo seja disparar raios neon contra blocos arco-íris, como em "Shallow End" ou numa pista de euro dance como em "Red Zone", que faz disparar os nossos 5 sentidos do início ao fim. Todo este impulso espacial e altamente cósmico levam-nos para um universo infinito onde não existe barreiras entre espaço ou tempo, só uma faixa gigante capaz de atravessar qualquer galáxia, é para estes lugares mais recônditos do pensamento que a música de Ghost Hunt nos leva. Para terminar com o eletro-punk progressivo de "Disconnection" como se estivesse a referir-se a um botão que nos desliga da máquina arcade para onde fomos transportados, o que na verdade acaba por ser uma viagem com destino até aos cantos do espaço e do nosso próprio ser, a reflexão e o pensamento são pequenas manifestações da nossa consciência depois de submetida a este alucinogéno.

Ghost Hunt é um trabalho brutal, produzido e concebido por dois artistas que mesmo tendo gostos totalmente díspares conseguem fundir todas essas influências num trabalho sobrenatural. O mais entusiasmante é que apenas estes dois seres humanos possuem os ingredientes para cozinhar som tão singular e extraordinário, o poder que ambos possuem pode fermentar em discos de culto cada vez mais peculiares, mas o som enigmático existe. É uma audição mágica e invulgar e todo o brilho surge dos seus detalhes mais espontâneos que tornam cada faixa mais memorável que a outra.

 

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