Luís Teixeira
Atingiram-nos em 2013 com uma estreia espiritual condensada por delay e repetição, enaltecidos pela efervescente cena psicadélica que se passava e que nós ainda gostamos de pensar que se passa na Austrália. Todas as bandas que faziam música psicadélica em 2012-2013 converteram esse som repleto de produção e reverb-drenched em algo muito mais acessível, palpável e honesto. Zach explicou a necessidade de retirar o delay vocal de "Oshin" para algo muito mais humano em "Is the is are". Kevin transformou todo o psich bliss de anos 60 para um espetro de dark sinth, acid disco em "Currents", se bem que já não era a primeira vez que Kevin regenerava o seu som, largando as guitarras e a sujidade sónica (Innerspeaker) para uma produção visivelmente mais limpa (Lonerism), tudo discos que influenciam novas gerações... Embora a estreia de Jagwar Ma nem se aproxime desses pólos, o mantra psicadélico, aéreo e eternamente nostálgico estava presente em "Howlin",
"Every Now & Then" não é uma continuação, mas sim um salto de década. Enquanto em "Howlin" todas as influências do Madchester de anos 80 estavam fielmente representadas por hinos Psich Dance, aqui a banda salta até ao Trip Hop dos anos 90, nunca perdendo essa indelével imagem de marca, como ouvimos em "Loose Ends", ao mesmo tempo que entra em campos techno, trippy/creepy disco como em "Give me a reason". Não interessa em que campo estão na verdade, a banda continua sempre a soar baggy e como se estivesse de volta em Manchester, como pode estar a animar uma festa em Nova Iorque e parecer tão credível como se estivesse na anterior!
Por cima disso tudo, continuam a ter o mesmo hook Pop que os torna tão acessível a todos, "Ordinary" ou "Batter Up" são provas disso, mas mesmo assim vão procurar a criatividade para fragmentar canções pop e experimentar arranjos de trap ou samples, beneficiando de uma composição minimalista. A música de Jagwar Ma por outro lado nunca pareceu minimalista e se alguma vez pareceu "Every Now And Then" é uma constante metamorfose de pop electrónico delicado e minuciosamente produzido. "O B 1" é um grito que nos leva de volta para "Howlin" mesmo que a banda se esforce tanto para dar esse salto, é o refrão repleto de condescendência fantasista, o trauma solarento das canções de "Howlin" voltam a assombrar-nos... Continuando a evocar poderes solarentos, continuam a elevar-se em "Slipping" enquanto tentam estilhaçar todo o conceito por trás de "Howlin", "High Rotations" é outro spooky interlúdio ocasionalmente mascarado por poluição sonora e noise aesthetics, radiação sonora em "Don't make It Right", outro dos momentos purificantes do disco, para terminar com o também gloomy eletro "Colours Of Paradise", lembrando últimos trabalhos de Noah Lennox com Panda Bear, entrando num delirante Acid House e por aí fora...
Não é tão incrível como a sua estreia mas cumpre o seu objetivo: "Every Now And Then" é um paraíso para qualquer Dj, que aqui pode extrair novas mixes, novas samples... Acima de tudo é um grito de afirmação, a banda floresce e continua a colocar a sua produção num nível elevadíssimo e prova não ser só mais uma banda do grande boom do Rock Australiano, no entanto, todo aquele entusiasmo e êxtase da sua brilhante estreia desapareceu por completo.