20 May
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Os Libertines, banda de rock alternativa inglesa, foi formada em Londres em 1997 pelos vocalistas Carl Barât e Pete Doherty. Centrada na parceria de Barât e Doherty, incluindo John Hassall no baixo e Gary Powell na bateria, a banda que fez parte do renascimento do rock de garagem e liderou o movimento no Reino Unido, tendo ganho notoriedade no início dos anos 2000, regressa agora em 2024 com um novo album  All Quiet on the Eastern Esplanade, desde a sua reunão em 2015 com Anthems for Doomed Youth.Com o primeiro single “Run Run Run”, que nos remete automaticamente para a canção de mesmo nome de Velvet Underground, os Libertines introduzem aquilo que, quem já os conhece, espera, guitarras com riffs contagiantes que entram com energia e só param quando a música acaba. Por seu turno, “Tonight we're gonna bring tomorrow's happiness” traz-nos num sentimento confortável de nostalgia. 

No entanto confinar este regresso à mera nostalgia é redutor face àquilo que a banda nos traz, já que este álbum revela maturidade nas suas composições sólidas e directas ao assunto, como a mencionada previamente, ou em músicas como “Mustang” e “I have a friend”, onde as guitarras e as letras são sustentadas por uma secção de ritmo que controla o tempo, deixando Barât e Doherty fluir num diálogo, não só lírico, mas que culmina num confronto de guitarras entre dois amigos de longa data. A irreverência permanece, mas onde antes a juventude significava um som punk descontrolado, a maturidade traz melodia e outro tipo de beleza estética sonora, onde músicas como “Mery old England” ou “Songs The Man with a Melody”, com a sua pretensa calmia da sonoridade a contrastar com os textos, deixam o ouvinte num estado comtemplativo sobre as suas temáticas, desde a questão dos imigrantes em Inglaterra até à instropeção e à sua melodia. Por seu turno, “Be young” e “Oh Shit” remetem-nos para tempos onde “Time for heroes” era uma habitué nas radios e o indie rock estava em alta com bandas suas contemporâneas, como The Hives ou The Strokes, onde a atitude irreverente e juvenil revertia-se no som, e em que o importante não era o preço e a qualidade dos instrumentos, mas sim de quem os tocava, como sucedia com Doherty ou Barât que usavam (e usam) guitarras como a Epiphone ou a Gibson melody maker, versões mais acessíveis de marcas caras. “Baron’s claw” e “Songs the never play on the radio” com o seu clássico som britânico, onde a acústica das guitarras, juntamente com o piano, nos trazem de volta à ideia do próprio album, de “tudo estar calmo na esplanada”, onde o ouvinte pode estar tranquilo e só, a escutar os acordes balanceando, enquanto o mundo à nossa volta continua a girar. 

Por fim, há que fazer referência às duas canções que a nosso ver marcam este regresso dos Libertines ao melhor que a música britânica tem para oferecer, “Night of the Hunter” e “Shiver”. De destacar não apenas a qualidade da composição em que, no primeiro caso, a inspiração nas notas do “Lago do Cisne” de Tchaikovsky, juntamente com o filme de Charles Laughton, Night of the Hunter, conferem a esta música uma tonalidade noir e impactante que tais inspirações permitem. Por seu turno, “Shiver”, com a sua mestria lírica, reúne duas composições de Doherty e Barât, e, da mesma forma como em “A Day in the Life” dos Beatles, a música ganha uma dimensão que supera a banda, em Shiver tal como o próprio nome indica, vai criar na audiência uma sensação não só de arrepios pela letra, mas também pela sonoridade onde as guitarras, mais uma vez sustentadas por uma secção de ritmo no refrão, dão aquele toque indie rock que fãs do género ansiam sempre, podendo reviver o passado não com nostalgia mas sim olhando com satisfação para o presente.


Texto: Mário J. Avelar

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