Miguel Pinto
Quando embate o estrondo que é Gravidade, primeira faixa do homónimo novo álbum dos Linda Martini, sentimos o regresso que esperávamos após o desapontante Sirumba: na primeira parte da canção a bateria em flashes vai destruindo tudo, a guitarra vai arranhando suavemente o espaço preparando a voz, que em catarse, vai descarregar toda a raiva que contêm, abrindo espaço entre o céu e o inferno; na segunda parte da canção porém, vemos um ritmo mais pausado, apesar de vivo, a apontar para os irmãos Paus, com a bateria certeira e guitarras pulsantes a acompanhar. A voz agora mais arrastada vai acompanhando a canção, conduzindo-a ao final, onde a guitarra, a lembrar uns Sunn O))) menos ansiosos, nos vai deixando aos poucos. Em Gravidade reside a evolução dos Linda Martini: a enérgica, impactante e primeira parte da canção mostra-nos a intensidade da fase inicial da banda, sendo que na segunda vemos os caminhos mais dançáveis, a pender para o math rock, que a banda escolheu optar nos últimos álbuns, e este homónimo não é exceção. Temos faixas como Caretano, uma enérgica epopeia dada a constante metamorfose de ritmo e velocidade, destacando-se o interessante refrão com travo a Brasil, com a melodia da guitarra e da voz em uníssono; Boca de Sal, uma canção orelhuda, graças aos riffs certeiros e à letra que em mantra acaba por nos contagiar, mas que em estrutura acaba por ser igual a Gravidade com a exceção de um crescendo e cliffhanger no final. Segue-se depois É Só uma Canção, uma faixa onde as guitarras vão, aos poucos, impondo a sua dominância face à contagiante energia da bateria, tornando-a uma canção igual a tantas outras que a banda já nos apresentou e Domingo Desportivo, uma faixa já mais à Olhos de Mongol, mas onde conseguimos ouvir uma certa tropicalidade, tanto pelo ritmo como pelo cantar de André Henriques, mas que apesar disso, pouco oferece de novo. A primeira conclusão a retirar deste álbum é que a banda repetiu a fórmula que os tornou das bandas mais importantes do rock nacional: as letras ora crípticas, ora extremamente diretas, a bateria sempre certeira, as guitarras ora dolentes, ora rítmicas, tornando este álbum, apesar de agradável, num exercício redundante. Falta o experimentalismo da frenética O Amor é Não Haver Polícia e a grandiosidade de Este Mar, que mais arriscados, poderiam dar a este álbum uma outra cor, porque tanto disco quanto banda, Linda Martini, precisam duma mudança de roupa.