06 Mar
06Mar

Luís Teixeira


Se "Cara D'Anjo" já era uma compilação de canções sensíveis e incrivelmente etéreas, neste sophomore homónimo Luís Severo não só confirma a sua habilidade para escrever canções pop pegajosas sem perder identidade subterrânea como confirma também a sua habilidade para compor melodias consternadas, nostálgicas e por sinal bastante comoventes. Esse salto para Alvalade deixa escombros de hinos pós-adolescência/pós-independência, à semelhança de "Têm os dias contados", "Luís Severo" também se pode considerar canções de emancipação, começando por "Amor e Verdade": "Fui Moço, já sou homem", sendo que também vai prestando homenagem a Lisboa "Amor és Penha de França"...

Continuando no remexido "Tudo Igual", todas as canções são guiadas por piano e guitarra maioritariamente, continuando a fazer referência à mocidade e a Lisboa, "Alameda vida paga, vida longa", sempre guiada por melodias viscosas. Até ao super "Escola", um pop elegante elaborado de forma primorosa. A escola, descoberta, melhores anos de uma vida, cedo entende-se do que este disco realmente fala. Revelando-se um compositor romântico e altruísta feminista "Luís Severo" vê Severo evoluir os seus cânticos amorosos, como no piano solo "Meu Amor" ou no lamecha "Cabeça de Vento", que é mais um sinal de emancipação ou desejo dela, tal como os Capitão Fausto que supervisionaram a conceção do disco, estas canções  não passam disso mesmo, uma despedida à mocidade, à solidão que é entregar-se a algo de corpo e alma e o quão assustador isso é: "Ainda assusta pensar no homem que um dia posso vir a ser" numa melodia solarenta e primaveril. Acima do amor e do desejo, como em "Lamento", Luís Severo põe a sua cidade do coração em primeiro plano e é esse o legado que esse disco deixa, "Olho de Lince" deixa a chave de ouro "Não feches teu olho de Lince, isto aqui é Lisboa cada qual que se defenda", não é preciso dizer muito mais.

"Cara D' Anjo" era uma obra prima de pop lo-fi, "Luís Severo" é um salto, de editora, de estúdio, de distribuidora... Mas as canções nunca perdem a identidade que Luís Severo insiste em imprimir em cada nova canção, feitas com amor em casa, para todo o mundo ouvir. Mais discos virão mas este homónimo será o mais marcante na discografia de Luís Severo por impor uma composição matura mas sem descartar um espírito de fedelho que fazem destas canções inestimáveis.


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