Catarina Soares
"Príncipe Real" era sem duvida um dos esforços mais aguardados do ano, recentemente condecorada com o título de promessa portuguesa para 2017, titulo dado pela geralmente "vidente" Time Out, Lucía concebe um EP de três canções que são apenas uma pequena, muito minúscula amostra de tudo aquilo que a ainda adolescente rapapariga de 17 anos consegue fazer. Aqui há coisas que são demasiado óbvias, a inexperiência, precipitação e reflexão insuficiente absolutamente normais numa adolescente desta idade parecem ser mais visíveis que nunca, coisa que ainda não tinha sido realmente exibido: Lucía parece ter escolhido para este primeiro trabalho algumas decisões pouco incisivas, começando pela capa, uma autêntica contradição destas canções melancólicas e nostálgicas, exibindo um sorriso amarelo que é tudo menos aquilo que realmente devia ser, um espelho destas canções. Aqui, Lucía também não percorreu o caminho extra para realmente caprichar na melodia das suas canções, "Céu Azul" uma canção sulista de quatro acordes sobre alguém, ou sobre a cidade... Depois de alguma ponderação, poderia ter havido outro trabalho a nível vocal, as suas canções parecem mais spoken-words falados do que canções cantadas.... As coisas ficam um bocado mais interessantes em "Príncipe Real", se foi ela que escreveu a melodia imprevisível e pulsante realmente é aqui que reside todo o real potencial da jovem xita. também fica claro que estas canções são sobre alguém, é entusiasmante crescermos com Lucía enquanto vemos a sua real perceção, os reais sentidos, a sua real sexualidade despoletarem... Ela sussurra ao longo de toda a canção porque realmente quer que apenas uma pessoa oiça. Acaba com "Limonada", e salta a vista o sintetizador analógico que atropela-se durante da canção, nem o "ta-ta" do refrão afina-se com o teclado, mas Lucía continua a aprofundar a crush que tem por alguém que não a trata como merece, essa composição ácida que ela mesma vai fazer evoluir com o passar das suas experiências terá de eventualmente ser limada por uma nova habilidade vocal que toda a gente sabe que Lúcia é capaz de atingir, já a vimos fazer o impossível com Vaiapraia!
"Príncipe Real" é isso mesmo, uma amostra. Mas tal como uma amostra, há coisas que podem ser melhoradas, mais trabalhadas, mais limadas, antes de realmente passarem para disco, aí chegaremos ao real zénite das reais capacidades de Lúcia, sem pressões. Destaque para o trabalho de supervisão de Luís Severo ao longo do disco (mais notável em algumas estâncias) que
detém com todas as certezas um dos discos do ano, esperemos no entanto que Lucía não acabe sendo aquilo que muita gente diz esta editora ser: Miúdos a quererem ser os seus ídolos... Deixemos eles continuarem a provar o contrário, em discos.