31 Dec
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Illegal Planel à partida não seria de todo um outtake a todo um carnaval psicadélico de cogumelos e rock n roll sextenário que por exemplo grupos como The Kundalini Genie têm apetrechado os seus ouvintes em plataformas rock como Captain Beefart ou todas essas convenções ácidas de vintage guitar rock. "Illegal Planet" é mais uma conversa inter-espacial consigo mesma, Rita Braga, e os seus pensamentos translúcidos que trazem à voga um som que continua a primar por ser antiquado na sua essência, trazendo alguns avanços futurísticos como se fosse uma história contada por uma traveller futurista dos anos 60 numa máquina do tempo em busca dos melhores synths e alguma marijuana para poder fumar e fazer música. Desta forma, títulos como "Astro Rumba" são muito mais introspetivos que dançantes, ao contrário do que o nome possa indicar, e fazem referências a essas várias odes de 60-psich-pop trazendo os orgãos e a volátil samba mascarada em repetição subtil e numa sedutora voz que teima em ser andrógena, mas surreal. Rita Braga também canta em português e as canções são similares a uma tripe ligeira de rock-pop psicadélico eletrónico não robótico... Uma fusão de Lena D'Água com Peaking Lights, como na ukelele-marmelada de "Flores Indigestas", que ao que parece é o cartão de visita maior e onde vemos Braga correr mais riscos sem propriamente pisá-los.  Há primeira vista, estas canções parecem ser mais um capricho que outra coisa, e pecam até por na sua maioria evocarem bpm's arrotantes em determinados períodos, mas a voz de Rita é inclusive cinemática o suficiente para manter o ouvinte preso à cassete. "Rádio Pardal" volta a evocar o noir lunático da sua composição, mantendo por base estes tão suavizantes orgãos e tripásticos kicks das drums, segurando um cigarro no cabaret em plena madrugada; "Nothing Came From Nowhere" é uma tentativa de trazer de volta o ilusionismo musical de por exemplo The Dandelion; E o provocatório / irrisório grito de ensaios como "Sorriso do Papagaio" ou o igualmente jazzístico / sala de espera do Hot Club "Ikea Snow", que volta a transpor mais conceitos idealmente psicadélicos para uma música outrora e francamente aborrecida. É como se Rita pegasse nos templates mínimos da synth-psich / femme fatale e combinasse-os com a típica “rapariga do baile” / front row princess, pusesse-os num vinil e vendesse-os. Não é revolucionário, nem escaldante... “Illegal Planet” sabe a isso mesmo: é um fruto proibido, pouco apetecido, capaz de criar alguns momentos de tensão que deslizam e evaporam-se rapidamente como se de um cigarro se tratasse. Se tínhamos falta de cantoras psicadélicas como Marlene Ribeiro, gostaria de ver Rita Braga retornar ao estúdio e tecer algo mais estupendo.

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