11 Aug
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     O grupo lisboeta Sardinhas com Bigodes é uma banda que segundo a própria se encontra numa constante procura de músicas portuguesas, na tentativa de criar uma sonoridade diferente, combinando tradição e folclore. O seu EP de estreia, Anzol ao Mar, é composto por quatro faixas e foi editado em 2017. Troca o par, canção presente no EP e que interpretaram, ajudou-os a vencer o concurso Novos Talentos da FNAC em 2018. Em novembro de 2022 foi editado, um novo disco, um EP de cinco canções com o nome da banda. A canção “Largo da Palmeira” tinha sido lançada anteriormente acompanhada por video, o qual já se encontrava acessível no Youtube

     Seguindo a linha de bandas clássicas portuguesas a nível sonoro como a Banda do Casaco, conhecida por ter no seu catálogo trabalhos de excelente qualidade musical, como os álbuns Coisas do Arco da Velha e Hoje Há Conquilhas, Amanhã não Sabemos, e que nunca descurou incorporar a crítica social no seu repertório. A Banda do Casaco por seu turno já se encontrava no seguimento estético do grupo Filarmónica Fraude, a qual juntava etnografia com as sensibilidades da música pop

     Percorrendo esta veia clássica da música pop portuguesa os Sardinhas continuam com esta tradição, adicionando, no entanto, a dimensão de músca ligeira com o seu carácter musical melodioso e cativante. Esta ideia persiste devido à facilidade que as músicas são captadas e ficam na retina. De notar neste sentido a mencionada previamente “Largo da Palmeira” ou “Hoje a Maré Vem Brava” que têm uma dimensão musical marcada por uma atmosfera descontraída e veranil, devido não apenas à sonoridade, mas também ao nível das letras. 

     De relevar, no entanto, uma dimensão nas Sardinhas com Bigodes, que nos deixa espectantes e que nos causa uma inquietação relativamente a trabalhos futuros, pois peca por escassa, que é a sua secção de ritmo. Um dos pontos mais altos da sonoridade deste conjunto é a dinâmica criada entre os seus elementos de percussão, o percussionista Luis Gama e o baterista Nuno Lacerda, e a baixista Inês Sousa, cujo diálogo entre si cativa a audiência, não apenas pelo ímpeto e pelo estímulo que aplicam na execução instrumental, mas acima de tudo pela vitalidade que dão às composições. A forma como o baterista com a sua sonoridade cria um ritmo e dá uma textura musical através da concepção dum som grave e pulsante, é deveras refrescante no mundo da música Folclore Pop Portuguesa, sendo nele reconhecível uma certa reminiscência punk

     Músicas como “Só passou um Dia” ou “Troca o Par” do seu primeiro EP Anzol ao Mar, ilustram de uma forma cabal estas dimensões, deixando-nos a nós, a audiência, sempre na expectativa face a mais. Os seus concertos são uma demonstração prática das dimensões aqui referidas. Neste sentido deve-se referir a sua presença assídua no circuito lisboeta de concertos tocando regularmente no Teatro Romano


     Texto: Mário J.Avelar

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