Miguel Pinto
Ultimamente, o mundo do horror e do fantástico tem sido um tema que envolveu muitos dos grandes álbuns rock que nos têm aparecido pela frente: desde Murder of the Universe dos King Gizzard and the Lizard Wizard a Orc dos Oh Sees, existe sempre um tom lovecraftiano nisto tudo. Castle Spell, sophomore de Sunflowers, banda que se instaurou no panorama do rock nacional com o seu primeiro álbum, The Intergalactic Guide to Find the Red Cowboy, não é exceção. Comecemos por destacar A Spasmatic Milkshake, uma caótica e contagiante faixa sobre um batido que não quer morrer, mas que é na verdade uma prova da catchyness que este duo nos é capaz de oferecer, pela constante repetição da letra, ritmo e melodia, que apesar da sua evidente simplicidade, nos vão sempre inquietando. Aliás, a repetição é de facto um dos trunfos deste disco, acabando por oferecer coesão e energia, e isso verifica-se em grande parte das faixas, apesar de por formas diferentes: enquanto na demasiado alegre Signal Hill estamos numa frenética cavalgada por entre as montanhas, em Surfin With the Phantom já estamos banhados nuns The Clash mais épicos e soturnos enquanto ainda em Sleepy Sun podemos andar por cenários mais melancólicos, tudo isto com a força duma guitarra e duma bateria. É de louvar ainda o vigor e intensidade que premeia praticamente todas as faixas, destacando-se a homónima Castle Spell, uma música estranhamente visual e impaciente onde a negritude da guitarra em modo fuzz se eleva a um ponto quase doom, acompanhada pela voz de Carlos e pelos coros de Carol que nunca se mostraram tão negros e hipnotizantes: somos imediatamente tomados de assalto, transportados para luas cheias, cenários vampirescos e para um perigoso e demoníaco feitiço que acaba por metaforizar todo o disco. O ponto fraco mais relevante neste álbum não se verifica exatamente no som, mas no artwork que poderia estar bem mais relacionado com o que ouvimos, verificando-se demasiado pop e vivo para um álbum que se mostra exatamente o contrário.