Figura maior do reavivamento do protestantismo português, pastor da Igreja da Lapa, depois de ter servido em Queluz e Benfica, Tiago Cavaco nasceu em 1977, tendo-se afirmado no panorama cultural através da sua atividade como músico. No seu reportório destacam-se temas como “A Isabel é Intelectual (Porque Perdeu a Virgindade na Feira do Livro)” e "Ó Judas Apertta o Laço", “Praia Verde”, “Beijas como uma freira” ou “True Believer”. Os seus álbuns de punk-rock surgem, porém, sob o nome de Tiago Guillul, ou em conjunto coma sua banda os Lacraus. A sua obra engloba a estética do punk caracterizada por um gosto de obras underground, minimalistas, iconoclastas e sarcásticas, sob e da atitude DIY (do it yourself).
Neste sentido surge o novo álbum, Bato Palmas na Igreja II, onde prossegue esta mesma dimensão: músicas de rock simples e descomplicadas que honram a maravilhosa oportunidade de criar música pela música.
Este músico na casa dos 40 anos possui o mesmo brilho juvenil e o mesmo desejo de continuar neste percurso criativo na procura de novos sons punks, utilizando batidas que fazem lembrar a sonoridade criada e simplificada pelo rock de garagem dos anos 60 e pelo pub rock dos anos 70.
Nos seus temas assiste-se a uma combinação entre o poder da poesia falada e a profundidade emocional da música religiosa. Esta fusão cria uma forma cativante de expressão artística que pode inspirar e comover os ouvintes, como em “Tipo um filme de João César Monteiro” que a nosso ver nos remete para bandas como os Primal Scream, os quais, por sua vez, trouxeram até nós uma mistura única de rock, punk e música eletrónica. Da mesma maneira, através desta fusão Tiago Cavaco cria um som energético simultaneamente nostálgico e fresco.
O poder expressivo das palavras, juntamente com o ritmo da música em temas como “Quando Tomba uma Mãe” e “Vi-te No Fogo”, permite comunicar as suas histórias de uma forma distinta e convincente, e exprimir os seus sentimentos. Abordando frequentemente questões do dia-a-dia e dando fórum a pessoas para pensar sobre esses temas nas suas músicas, Tiago Cavaco mantém essa tradição nesta sua nova aventura.
Com a sua apresentação genuína e sem complexos, cria um cenário de forte ligação com os ouvintes, sem deixar de apresentar um novo ponto de vista sobre as temáticas abordadas. “Very Light na Barriga” entra nesta esfera abordando olhares sobre a vida quotidiana e facilitando uma identificação por parte do ouvinte. Além disso, estas canções que captam momentos mundanos ou experiências comuns, podem evocar tanto nostalgia como conforto, e levarem a audiência a reconhecer-se nesta experiência emocional.
Na sua essência, Bato Palmas na Igreja II, de uma certa forma, proporciona uma encarnação sonora eletrónica de um salmo elaborado na Igreja. A música sempre foi um meio poderoso para contar histórias e, quando se trata de retratar as nuances da vida do dia-a-dia citadino, certos géneros e artistas destacam-se, e Tiago Cavaco é um deles.
Texto: Mário Avelar