MEIO PALMO DE TESTA / 2º EPISÓDIO

Miguel Pinto


O episódio desta semana começou com a curiosidade histórica de quem terá sido o primeiro músico português, já que pouco conhecemos (pelo menos eu) da música portuguesa de antes de 1900. Após alguma pesquisa surgiu Duarte Lobo, músico que poderá não ter sido o primeiro, mas foi dos mais importantes músicos portugueses de sempre, pela sua incursão na polifonia portuguesa. 

Muito pouco se sabe quer da vida de Duarte Lobo quer das suas obras assim como acontece com qualquer outro compositor desde o inicio da nacionalidade até o século XX. Estima-se que tal facto se deva a inúmeros fatores tais como as constantes lutas internas do nosso país, invasões estrangeiras ou até a destruição da importante livraria musical de D. João IV, na qual estavam inúmeras partituras manuscritas de compositores nacionais, pelo terramoto de 1755.

Não poderíamos culpar a falta de músicos em território nacional, pelo menos a partir do século XVI. Apesar de Portugal não ter investido tanto na música como países como a Alemanha ou Austria nestes séculos, haviam bastantes compositores em Portugal nomeadamente ligados à igreja, entre os séculos XVI e XVII, que se dedicavam à música polifónica. Temos como exemplo destes compositores Manuel Mendes, Filipe de Magalhães ou até Duarte Lobo como já referi. Também tínhamos músicos que se dedicavam à composição em órgão, mas não é desses que queremos falar hoje.

O pouco que sabemos sobre os compositores polifónicos em Portugal podemos agradecer ao agrupamento Polyphonia que fundado em 1941, sob a direção de Mário de Sampayo Ribeiro, foi capaz de desvendar mais histórias e obras acerca destes compositores.

Voltando à linha de seguimento disto tudo, sabe-se então que Lobo, nasceu em Alcáçovas, estima-se por volta de 1565, e foi aluno de Manuel Mendes na Escola de Música da Sé de Évora, prestigiadíssima escola de música na altura que acolheu outros grandes polifonistas como é o caso, por exemplo, de Filipe de Magalhães (aliás é curioso grandes parte dos maiores compositores da época virem do Alentejo: Duarte Lobo de Alcáçovas, Manuel Cardoso de Fronteira, Rodrigues Coelho de Elvas…), vindo nesta a desempenhar as funções de mestre do coro. Depois vai para Lisboa, como mestre da Capela do Hospital Real e mais tarde como mestre da capela da Sé. Pelo que se sabe morreu já em idade avançada aos 81 anos em 1646.

Apesar dos congéneres na arte da polifonia, Lobo destacou-se como o melhor polifonista português, e o mais famoso compositor português da sua época, devido à forte atratividade e expressividade da sua música. Embora esteja inserido no Barroco, bastantes obras de Lobo enquadram-se no género polifónico criado por Giovanni Palestrina, compositor renascentista italiano, cujas obras são caracterizadas principalmente pela sua claridade e fluência. 



A música de Lobo não é um género que honestamente eu oiça normalmente ou esteja sequer habituado a ouvir, como provavelmente acontece contigo que estás a ler isto. Por isso nem sequer vou proceder a análises sónicas da música, visto que não tenho o conhecimento suficiente sobre música erudita para o fazer. Mas a beleza do seu som é inevitável, a qualquer ouvinte. Não se trata de simples música coral: é pura transcendência, numa música que não representa só um legado dos antepassados da nossa música clássica, como é também uma afirmação de um dos maiores compositores portugueses, e que infelizmente ainda é desconhecido para muitos. Oiça-se Duarte Lobo.