MEIO PALMO DE TESTA/ 6º EPISÓDIO

Miguel Pinto


Como sabemos, o Krautrock foi um género que influenciou muita da música que ouvimos após os anos 70, em géneros completamente díspares, desde o pós-punk, ao industrial até à eletrónica.

Felix Kubin, nasceu na Alemanha sob esta influência e após lhe terem oferecido um Korg MS-20 aos 11 anos, aproveitou-se desse som para fundar uma linguagem própria que consegue navegar em todas as áreas que o dito género veio a influenciar, mantendo sempre, mesmo assim, um cunho inconfundível.

The Tetchy Teenage Tapes of Felix Kubin e Teenage Tapes são duas reflexões destes primeiros tempos de Felix compreendendo faixas produzidas entre 1980 e 1985 (entre os seus 11 e 16 anos), e o que aqui ouvimos, apesar de num nível mais básico, é já a imagem de marca de Kubin, os sintetizadores banhados em terror e fantasia, os ritmos inquietantes, a influência eletroacústica, o nonsense bizarro: sim, porque é impossível explicar Kubin sem falar de bizarro.

Comecemos neste caso, por Matki Wandalki, a sua primeira obra prima, onde na capa, apesar de apenas observarmos uma foto de Kubin, podemos observar uma das capas mais inquietantes ou assombrosas em que alguma vez vamos pôr os olhos: o olhar esbugalhado e penetrante de Kubin, envolto numa obsessiva formalidade ou diríamos perfeição (?), intimida-nos e aterroriza-nos para a escuta do álbum, quase num mood post-mortem, onde reside, desde a faixa inicial, uma introdução a um dos nicknames de Kubin, Whirlwind Wizard of the Ivories, e a suposta tortura de pessoas nessa sua personificação, a uma irónica e narcisística versão de Hello de Lionel Richie, expondo a canção à sua “real sinceridade” pelo meio da bizarrice. Porém, na verdade custa a chamá-la uma versão, visto a completa metamorfose que a canção sofreu pelo talento de Kubin. Com isto resulta indiscutivelmente uma das suas melhores canções (mas verdade seja dita grande parte das suas músicas não são canções, mesmo apesar da sua estrutura de inspirações pop), e para mim o cover mais genial de sempre. 

Poderíamos apontar mais factos bizarros como uma canção chamada Menstruation Glamour, ou Kubin se ter vestido de general do século XIX, para os seus concertos. De qualquer maneira, é dificílimo entender o estilo de Kubin: só mesmo através de uma longa incursão pela sua já extensa obra (e mesmo assim).

Outro destaque é Hotel Supernova, a sua canção com maior notoriedade, presente no álbum Jetlag Disko, onde se destaca, para além dos sintetizadores hallowinescos, um vídeo absurdista e simbólico, a acompanhá-la, realizado pelo próprio.

Sim, porque Kubin não é só um homem da música. Além disso é performer, realizador, professor e curador de espetáculos, além de ter ainda a sua própria editora, a Gagarin Records, baseada em Yuri Gagarin, o primeiro homem a viajar no espaço (sim, porque o Neil Armstrong foi o primeiro, mas a pisar a Lua) onde divulga eletrónica experimental de cunho dadaísta, na mesma linha do seu trabalho.

Porém, se fossemos explorar todo o estilo e nuances da obra deste homem, não sairíamos daqui nem amanhã. É ouvir.