12 Mar
12Mar

Luís Teixeira


Do Rap ao Rock, do Folk à electrónica, desde miúdo que acompanho o Festival Eurovisão da Canção, evento que proporcionou-me alguns dos momentos mais marcantes da minha infância. A irreverência, presença de palco e carisma fizeram muitos artistas serem condecorados, um sistema de voto pacientemente infavorável a "underdogs" nunca condecoraram um artista português vencedor, de resto, o nosso país foi o único a nunca vencer esta competição que é sempre suposto ser uma verdadeira celebração da música conduzida um pouco por toda a Europa. Não importa a tua agenda política, a tua orientação sexual... Desde que saibas cantar. Passaram décadas e não vencemos uma única competição, talvez algo esteja a acontecer de errado, mas o quê? Temos selecionado os nossos artistas baseando-nos nos mesmos critérios aborrecidos de sempre: estatuto, estética e alcance. Que se lixe esses critérios destros que nunca nos ganharam esta tão cobiçada competição, inclusive alguns nunca passaram das meias finais. 2017 devia ser o ano da mudança, a mudança que queríamos ver acontecer a um espetro global. Há espaço para todos os artistas com talento, não é preciso empurrarem-se uns aos outros, o ciume aqui não é tolerado porque os verdadeiros artistas jogam em prol da cultura, não do ego. Se "quem faz por gosto não cansa" então porque já sentes essa pressão toda e ansiedade, artista? Quem estás a tentar suplantar? E esta imprensazita musical portuguesa não ajuda nada, a B**** não sei das quantas não dá tanta importância ao subterrâneo como a Pitchfork ou a NME dão, assim como é que querem assumir-se como a publicação musical mais completa do país? Eu estava a falar com os amigos Alexandre Rendeiro (Alek Rein) e o João Dário (Putas Bêbedas) sobre isso mesmo, as perguntas que precisam de ser respondidas: Como é que podemos todos juntos lutar pelo real propósito, a divulgação? Não! Nunca será possível, porque as promotoras, blogs, agências (quase todas) sofrem a mesma síndrome nojenta de "Queremos ser Hollywood", portanto isto aqui é uma selva e é cada um por si. Não existe uma real coletividade no meio underground, toda a gente está tão preocupada em lutar por um lugar que esquecem-se que há uma procura diferente para cada tipo de oferta. O objetivo de cada um é amontoar o maior número de créditos possíveis para sair o mais rápido da linha de água, mas como é que vais lutar pelo título se só tens ambição para lutar pela permanência? De que título estou a falar? Não me venham com tretas, não devia girar tudo à volta da música? Não é esse o prémio no fim, a música, aquilo que ela te faz sentir, não aquilo que ela te torna? Eu vejo pessoas à minha frente que nem fazem música a agir como se fossem estrelas de rock só porque pensam que a controlam, tás com a neura amigo.


Chamem-me o que quiserem, vocês já sabem como é que este site criado e fundado por mim em 2013 funicona, eu digo aquilo que quiser, quando me apetecer, se leste leste, se não leste o meu nível de alívio por ter extraído as palavras que queria vai continuar a existir. Ninguém me pode apontar o dedo, eu do quarto já fiz e disse mais que tu, pessoa céptica habituada a apontar os erros dos outros ao invés de criar, alguma vez fez na vida. Inventei amizades de forma genuína, graças a Deus não tive de lamber botas, dar nada em troca ou bajular ninguém, só tive de passar madrugadas em Lisboa e ser eu mesmo. Nada contra o Salvador Sobral, achei a atuação dele boa e espero que para bem da minha nação ele possa ser bem sucedido na Ucrânia, mas ia-me dar igual prazer ver o meu vizinho do lado ali naquele palco a representar o meu país, num meio subterrâneo repleto de talento e de boa gente que só quer fazer a sua música chegar mais longe. Eu chamo-lhe "A celebração que se celebra a si mesma", porquê? Porque neste meio, ninguém presta mais homenagem a um disco novo ou a um lançamento que nós, artistas, reais fãs. Somos nós que enchemos aquela sala onde ele tocou na quinta-passada, somos nós que partilhamos o disco dele, somos nós que o congratulamos, somos que nos sentamos ao lado dele a beber cerveja e a fazer-lhe uma data de perguntas como estamos realmente interessados em saber mais sobre como aquele pedaço de música foi feito, somos nós que ficamos entusiasmados quando o vemos, porque a música que essa pessoa fez teve um impacto gigantesco na nossa vida e aquilo que essa pessoa deixou é o legado que deixa depois de deixar de existir. A nossa música subterrânea vive tempos de ouro, alguns passam mais despercebidos, alguns mais falados que outros, mas o talento existe, a música existe, isso é o que importa. Uau, estendi-me imenso no meu texto, é tão fixe ter a liberdade para dizer o que me apetecer, quem é que vai ler isto? Se eu quisesse escrever pénis escrevia.


10 canções underground que podiam ser finalistas no Festival Da Canção (não é uma lista):

Primeira Dama- Não Passa Nada


Mandar o Manel para a televisão, nomeadamente a estação pública, talvez não fosse assim tão mal pensado pela RTP, é que com 20 anos e um disco de estreia exímio, Primeira Dama revela-se o futuro da música portuguesa, sem debate possível. Nada melhor que a estação mostrar ao país e ao mundo alguns dos rebentos mais proeminentes do momento a nível nacional, Primeira Dama não iria só representar o país na Europa, iria defender toda esta nova faixa-etária de músicos que é menosprezada precisamente pela idade, não haveria maior barreira que esta a quebrar. Com arranjos menos etéreos e vocais muito mais limpos e convencionais e o conjunto certo de músicos/coro a apoiá-lo bem como outro visual muito mais apropriado para massas (ao invés do característico conjuntos calças pretas/tshir-t branca presa à cintura) "Não Passa Nada" podia mesmo ser tocada ali naquele palco.



Luís Severo- Planície


Aquelas maracas iniciais sugerem ritmo ao longo de toda a canção que é um conto de infância e amor, e rebeldia... O ritmo ia colocar a Europa a dançar, a melodia a escutar. Uma aparição de Luís Severo pelo Festival da Canção seria o momento mais marcante da sua carreira, não por passar na televisão ou pelo alcance do programa, mas sim porque se concorresse com "Planície" teria mesmo fortes hipóteses de vencer o concurso.



Filipe Sambado- Roda a Garrafa


Vida Salgada" é um disco pop clássico, que fique registado. As melodias baroque/chamber misturadas com o atrevimento vocal de Sambado são as canções mais memoráveis que alguma vez escreverá, misturadas com a sua estética Glam inédita.. Eu consigo imaginar o coro gigante, a banda a fazer o público na Ucrânia dançar e com este hino sexual-ambíguo a bandeira portuguesa nunca iria agitar tão alto, que entusiasmante imaginar!



Pista- Puxa


"Puxa" ia fazer todo o público na Ucrânia gritar com a banda, não só seria visto como a derradeira declaração portuguesa como tenho a certeza que ia ser um hit imediato, serve para dançar e dá para ser gritado em uníssono. Porquê que a palavra dançar é tão importante em festivais destes, nós que falamos a língua portuguesa ou os fazemos dançar ou os fazemos chorar como nunca choraram, quando os Pista entram em palco ninguém faz o segundo.


Pega Monstro- És tu, já sei


Então porque não trazer uma das bandas portuguesas mais internacionais de sempre? Haha, é verdade! Há provas mais que suficientes capazes de apoiar uma afirmação destas. Se "Alfarroba" é o disco mais acessível e radio-friendly do duo garageiro então dá para tirarmos pelo menos uma ou outra canção que podia mesmo tocar aquele público ucraniano, não pensei em nada mais tocante que esta.



D'alva- Frescobol


Eu não sou muito fã de D'alva, o Alex sabe disso, mas eu mesmo tenho de admitir que esta produção e esta composição atraem muita gente e fazem muita gente dançar e cantar também, os D'alva poderiam não vencer a competição (they do anything to keep a nigga from winning) mas se é para desperdiçar mais um ano, como já é feito à décadas, então mais vale desperdiçar com o maior expoente mainstream atual e fazer alguns ucranianos dançar.



Sallim- Grão a Grão


"Isula" é um disco fortemente abençoado por um ambiente melancólico e tenso, amenixados por vocais etéreos e angelicais frasier-esque, à semelhança de Melody Prochet se Sallim quisesse deixar de fazer música, não precisaria de um legado maior que este. Retirando essas faixas deprimentes, uma banda propícia, alguns novos arranjos melódicos e talvez um coro, Sallim podia mesmo concorrer ao festival com esta canção, ou outras, mas esta é só a minha preferida.


Capitão Fausto- Corazón


Eu nunca gosto de proferir muitas palavras sobre esta banda, ao contrário de todas as publicações que escrevem sobre esta, não desejo cair na banalidade e clichés básicos, eu ao contrário destas publicações quero puder cumprimentar estes cinco rapazes quando os vir... 


Lourenço Crespo- Só Aparece


Estas melodias pop são tão pegajosas como uma pastilha elástica mascada durante duas horas ou um cachimbo de crack depois de horas sem ser utilizada, não que eu saiba o último... O quê? Eu consigo cantar estas canções todas do início ao fim, eu consigo ouvir este disco milhentas vezes seguidas sem nunca me fartar dele, com a banda certa ao lado do Lourenço esta música ia ser um sucesso lá no festival!



Samuel Úria- Carga de Ombro


As Golden Slumbers são lindas, o tio Úria tem um disco repleto de composições exemplares, "Coisas que tinha guardado há muito tempo" como ele me disse quando estávamos sentados a aparvalhar com o Nuno Dias o Pedro Paulos e o não sei das quantas. O mais importante é que todas as canções podiam ser interpretadas por ele no festival, se ele não fosse tão auto-avaliador e achasse que o momento dele ainda não seria aquele. "Carga de Ombro", imaginemos, com o mesmo poderio que levou para o "No Ar" poderia mesmo arrebatar o público.



Falta aqui muita gente eu sei, infelizmente eu não posso agradar a todos. Que isto seja só uma pequena gota daquilo que é o nosso atual riacho. Boa sorte Salvador Sobral.


Este texto não foi revisto, pode conter erros explícitos.

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