Manel Seatra
O local já era meu conhecido de gingeira de uns tempos eborenses e o sentimento era de filho pródigo regressado à que já foi uma segunda casa. Na SHE (Sociedade Harmonia Eborense) vi um pouco de tudo a partir dos meus 14 / 15 anos (numa altura em que não havia um controlo rigoroso quanto à faixa etária que parava por aquelas bandas). Foi naquele lugar que comecei a ver concertos de um circuito que hoje me é próximo e do qual tento ser um consumidor atento e assíduo (desta feita, na capital). Hoje não foi excepção e o Black Bass, a par dos eventos da Pointlist em geral, tem vindo a revelar-se uma óptima folga para revisitar a velha cidade e ver que tem vezes em que não está tão moribunda como poderá noutras aparentar.
Nostalgias à parte, o ringue começa a compor-se e o primeiro assalto estreia com os já Indieotamente elogiados Moon Preachers. Prontinhos para a festa e é às 23 e trinta e picos que se principia o combate. (e que combate!)
A pista ferve com uma bateria furiosa e uma guitarra assanhada, a composição dos dois jovens elementos é de escutar e chorar por mais – apresenta-se um concerto sólido “Somos os Moon Preachers e viemos da Margem Sul, perto do Seixal” diz o Rafa entre temas gritantes, rugidos sonoros com um cheirinho a raw que não nos aparece todos os dias e uma bateria que germina em força e electriza quem assiste ao poder destes rapazes. Ainda a desbravar caminho mas já se pode afirmar com segurança que são feras de palco e sabem dar show – o êxtase final culminou numa bateria quase-siamesa a quatro mãos e um feedback bem arranjado para o momento a levar toda a gente ao delírio. Os pedidos de bis ficaram um pouco aquém e não se jogaram uns descontos mas ficou a vontade de mais daquela crueza.
Se no primeiro combate a pista já fervia, no segundo, à entrada inédita do misterioso supergrupo Dinozorg, o termómetro rebentou. A febre começou por contagiar-se com a abertura de uma epopeia que narra o improvável cruzamento entre um dinossauro e um cyborg.
Segundo o folheto informativo do festival o grupo não se sabe definir e eu também não me sinto competente nem no direito de fazê-lo (talvez seja melhor assim, não querendo romper o enigma, indefinido e desvinculado de sonoridades, cheios e / ou sabores). Esta incógnita dá uma força ainda maior ao épico manuscrito que galopa de capítulo a capítulo com muita potência e uma composição instrumental que baloiça com o público febril e ironiza a agitação em demasia que provocou invasões de palco a contornar a história do nosso herói repetido ao longo do concerto – Dinozorg.
Se no anterior não houve oportunidade para fazer justiça à qualidade com mais um tema no palco, neste concerto houve vingança com uma espécie de combate báquico entre a performance dos músicos e a exaltação do público. Desde mini-mosh, Xutos e Pontapés (alguém gritou “toca Xutos!”?), apropriações de microfone… Houve um pouco de tudo, até direito a uma espécie de cover do veterano Allen Halloween e do seu clássico “Dia na Vida de um Dread de 16 Anos”.
Resumindo, esta abertura do festival com esta dupla de concertos foi um gigantesco bafejo de ar quente que fez falta para aquecer Évora já na segunda metade de Novembro. Ia jurar que senti um choque térmico ao descer para a Praça do Giraldo numa pausa entre os concertos e o DjSet que viria logo de seguida.
Finalmente, para fechar a noite no bem bom, o DjSet foi assumido pelo colectivo Cão da Garagem. Trata-se da label portuense das bandas Sunflowers, Fugly, 800 Gondomar, Hot Wheels e dos míticos Dinozorg. Houve misturas de raw, swag e boa disposição.
Hoje é no SOIR JAA e lá estarei a dar tudo entre os eborenses.