Foi no passado Sábado que Primeira Dama fez a sua estreia no Musicbox, mas aquilo que aconteceu nesse dia só poderia ser relatado dias depois, ainda estamos a tentar interiorizar todo o conhecimento e sabedoria absorvida. Por um lado temos um artista plástico recentemente convertido em músico Lonnie Holley, diretamente dos Estados Unidos e por outro temos a jovem promessa Manel Lourenço proveniente da efervescente cena musical lisboeta, fundador da Xita Records e por sinal outra alma frágil. Não foi um choque mas também não deixou de ser um encontro peculiar, duas gerações diferentes, dois sintetizadores, duas composições complexas.
Os dois músicos trocaram ideias no final do concerto
Manel Lourenço entra em palco com um peso grande nas costas, seria o primeiro artista a solo (Lúcia já tinha estado no Musicbox com Vaiapria) da sua editora a pisar tão conceituado palco. Apresenta temas do seu muito elogiado disco de estreia "Histórias por contar", levando com ele os seus maneirismos pop fundidos com uma atitude punk. A prova? Constantemente qustionado por não tocar todas as faixas do seu disco, Manel responde "Porque não me apetece!".
Tocou originais e os seus clássicos de esquerda "Não Passa Nada" ou "Cantiga de Sala" mas também tocou novas canções, ainda chamou o seu amigo Filipe Sambado mas ele não estava na audiência, chamou o seu colega João Raposo para fazer os coros de uma das várias "canções sem nome" de Primeira Dama, sim porque muitas destas canções ainda não foram lançadas. De resto aguardamos algo deste jovem compositor João Raposo que vimos no Barreiro em Julho. Tremido e nervoso mas nunca intimidado, Primeira Dama fez aquilo que tinha de fazer, sem nunca colocar o espaço no pedestal que muitos colocaram, mereceu o seu lugar no cartaz de tão conceituado festival, sem cobrar favores, cunhas ou lamber cus.
B Fachada esteve presente no concerto de Primeira Dama
Lonnie Holley tocou para uma audiência sentada, ele mesmo diz a dada altura "You look like students paying atention to the professor, i enjoy that", mas Lonnie foi mais que um professor, eu chamaria-lhe pastor!
No meio da audiência estava Primeira Dama, que fez questão de sentar-se no meio do público
Lonnie Holley contou histórias do passado, histórias do presente. Contou lições de moral, a necessidade de preservar a mãe natureza, "the mouth of hell" uma referência ao seu passado atribulado e em como todos nós temos caído ou pelo temos tido facilidade em cair na boca do inferno, no vício, nas constantes tentações do diabo, beneficiando de texturas de sintetizadores sensíveis, uma percussão tímida e quase inaudível e assobios que caracterizavam a natureza através do canto dos passarinhos.
Musicbox nem estava muito cheio nessa tarde, mas quem esteve presente e verdadeiramente atento viu uma palestra sonora. Dois concertos íntimos onde a conexão artista-público nunca seria perturbada devido ao silencio incutido em ambos. O Musicbox ainda ia encher muito mais nessa noite...