13 Mar


Tame Impala e Capitão Fausto, uma comparação justa e sempre questionável

7 DEZEMBRO, 2016 -


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Quem diz que Kevin Parker não é uma figura essencial do indie rock de século XXI com certeza não deverá entender muito de música, ou isso ou passou os últimos anos a dissolver tudo aquilo que a junk culture lhe alimentava, de mtv’s, a billboards, a outros meios degradantes de propagação de música. Passo a explicar, é que Kevin junto dos Impala molda um novo brilho psicadélico, onde a destreza sónica torna-se muito mais importante que qualquer outro pedal. O espírito cru e direto das suas primeiras gravações re-inventa o termo lo-fi, onde não basta gravar apenas num gravador de 4 pistas. Ou estás envolvido em todos os passos da tua música ou confias em terceiros e isso está fora de questão para Kevin Parker! O resultado disto tudo é uma contingência sónica com fuzz e latência e que torna o som humano, tão perfeito e imperfeito.

Uma coisa também é certa, quando se começa a falar de Kevin Parker há a tendência para entrar em ramblings infinitos, mas desta vez o discurso tem uma razão de ser, é que desde clássicos ultra-sónicos como “Innerspeaker” para “Currents” que o rock psicadélico perdeu o seu aparentemente eterno guia. Guia esse que sentiu a necessidade de re-inventar o som de Impala sem perder essa identidade garageira e essa transição não tão brusca acaba por ter um impacto brutalíssimo em quase todas as bandas de indie rock influenciadas pelo som revivalista de Impala.

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Em Portugal, mais propriamente em Lisboa, os Capitão Fausto (ou os extintos Los Waves) pareciam ser os nossos percursores portugueses. Em “Gazela” nem tanto, embora tenha conseguido um pequeno culto de fãs em torno do país, mas em “Pesar o Sol” já se sentia um bocado dessa urgência sónica que evocava esse som tão raro. O próprio nome indicava melodias solarengas e raiadas por fuzz e distorção cor-de-rosa, “Pesar o Sol” parecia na altura ser um dos grandes discos portugueses da década. O álbum foi masterizado por Greg Calibi, habituado a mexer som de outros gurus do psicadelismo de nova escola (para além de Tame Impala faz o sophomore de MGMT e trabalhou com Kurt Vile), portanto essa necessidade de limpar o som até às suas profundezas mais mesquinhas só podia culminar num clássico. “Pesar o Sol” era um grande disco e hoje já é um clássico moderno?

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Kevin Parker lançou “Currents” e o peso que isso teve em bandas como Capitão Fausto foi notório. Apesar de “Lonerism” ser um grito que dizia “Os tempos estão a mudar”, a guitarra de Kevin sempre foi o som distintivo da sua banda, tanto que emprestou a sua guitarra a Melody Prochet na também brilhante “Melody’s Echo Chamber”, brilhante porque o disco é mais de Kevin do que é de Melody: Os vocais angelicais Elisabeth Fraser-esque são mérito dela, mas a guitarra, o baixo, a bateria, o som delay-drenched pertence todo a Kevin. “Capitão Fausto têm os dias contados” é outra transição inesperada. “Pesar o Sol” também utilizava sintetizadores tal como em qualquer disco do conjunto de Alvalade, mas “Têm os dias contados” tem canções pop muito mais acessíveis e convencionais, um pop barroco limpo e harmonioso repleto de melodia, sol e nuvens. Este álbum foi lançado na Primavera perfeita. Por isso é que ambos “Lonerism” (ou qualquer outra coisa mexida por Parker, até raridades ou lados b’s) e “Pesar o Sol” hoje são vistos como clássicos, porque esse som já não volta e se voltar é por uma mão cheia de outras bandas influenciadas pelo mesmo.

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O meu atrevimento ao comparar o som de Tame Impala a Capitão Fausto é justo e sempre questionável, e, na minha opinião, a comparação não precisa de se justificar sobre absolutamente mais nada.

Os Capitão Fausto tocam dia 22 de Dezembro no Coliseu dos Recreios e não tenham dúvidas que o Coliseu irá encher.


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