Lon3r Johny faz a sua estreia nos Coliseus em 2025. Mas no Sumol Summer Fest em Julho de 2024, vimos um espectáculo de um artista muito ciente de estar numa classe superior na música.
Vamos conversar sobre trap, um género tão específico no que às classes sociais e raciais dizem respeito e onde temos visto alguns rappers brancos dominarem por completo as charts, desde Eminem a Fred Durst. E agora, em Portugal, temos um caso absoluto. Um caso raro. Um fenómeno inegável, uma fonte enriquecida de estupefaciência sonora. Lon3r Johny, que surge numa era onde o trap começava a ser muito mais que um estilo de vida, começava a ser uma tendência. Se Gucci Mane fez do trap uma cena fixe, artistas como Migos ajudaram a difundir este estilo para todo o planeta conhecer, com singles como “Versage”, “Hannah Montana” ou “Bad & Boujee” e aqui, temos de colocar o Soundcloud Rap no centro de toda a ação. Florida estava a explodir, a esquentar mesmo. Artistas como Plutónio em 2015 seriam considerados mais Don’s 50 Cent’s, mais românticos e mais “gangsters”, vá, que por exemplo Prof Jam que era um rapper mais lírico, mais de boom bap, mas que soube também explodir com esta reverente fórmula do trap. Depois, artistas como Lil Pump ajudavam a desmentir um pouco este feitiço por rap lírico, incluindo uma das “diss’s” mais famosas do rap que este e outro artista da mesma localidade em Florida, Smokepurpp, lançaram sobre o muito lírico J. Cole, na eterna “Fuck Jay Cole”, e daí, rappers internacionais como Lil Yachty ou 21 Savage fizeram literalmente o que quiseram deste estilo trap. No Emo Rap, Lil Peep surge como uma anti-estrela para góticos e Lon3r Johny encaixa aqui que nem uma luva, levando este estilo de som para território desconhecido em Portugal, pelo que no sentido literal da palavra, Lon3r Johny é um pioneiro e um autêntico percursor deste estilo, e acontece que é um dos artistas mais saudáveis do game atualmente, amealhando discos e aparições em concertos lotados, festivais de grande porte, colaborações de alto perfil... Enfim, temos de conversar um pouco sobre as circunstâncias por trás deste crescimento.
E para isso, temos absolutamente de voltar a 2013 quando a Liga Knockout era mais uma daquelas ocasiões para bons rappers surgirem, daqueles com lírica. Não os poetas de karaoke que Samuel Mira, por exemplo, critica, e que tais afirmações ligam a música de Lon3r a uma geração de mumble rappers. Depois da Teoria de Big Bang, Prof Jam assume-se como um autêntico senhor do Rap com “Mixtakes” e aí, a sua influência torna-se tão grande que acaba por fundar a sua novíssima editora “Think Music”, distribuída pela Sony. E aqui, surge um nome fundamental desta era trap, Lon3r Johny que reinventa-se de disco para disco e que sobe com singles absolutamente magnéticos, numa tentativa robusta de responder a tais desânimos sobre o que é ou não trap ou mumble rap ou o que quer que tenha sido editado naquela editora. O que é engraçado porque um rapper como Lon3r acaba por ter uma tremenda influência na própria forma como Prof Jam prevê a sua música. Estamos a falar de um rapper de Boom Bap com influências lo-fi e um visual auto-produzido. Mário Cotrim teve de sair para Londres e aperfeiçoar a sua arte de produzir e regressa com “Mixtakes”. Lon3r volta com uma história muito parecida, uma ida à cidade de sua majestade e um reencontrar de som, de fórmula, de dinâmica. História ainda mais parecida que estas duas, só me faz lembrar uma. Mas temos de perceber o impacto que o trap teve e tem a um nível global e que artistas como estes dois, com o acidental pico de música auto-tune souberam capitalizar muitíssimo bem para transformar por completo as suas carreiras. Se ouvirmos com muita atenção a música de Lon3r Johny, temos de interpretar
e compreender várias coisas ao mesmo tempo... Uma, que artistas como YUZI foram muito responsáveis por esta explosão do novo trap português e para sermos honestos foi este artista que ajudou a colocar o trap no mapa e foi este também que avançou primeiro com a editora da Think Music, e depois saber interpolar os acontecimentos deste estilo de vida que é perigosa para muitos destes rappers que sabem exatamente o que enfrentar assim que começam a trabalhar constantemente e a lidar com management, de verdade é dito que muitos destes nomes não vão de facto lidar com a pressão da fama, e para sermos completamente honestos, Lon3r Johny parece ser um autêntico sobrevivente. Sippinpurpp é outro nome fulcral, que surgiu com um single famoso, “Sauce”; Yuri NR5 surgiu também com “São Paulo”, mas à excepção de Chico da Tina, não me lembro de outro trapper com tantos êxitos: “O Meu Money”, “Rockstar Shit”, “Tou no Céu”, e estes últimos EP’s catapultam Lon3r Johny para outra galáxia. “Antissocial” é o último registo amplamente aclamado, com Plutónio, o que ainda cimenta mais este facto de estarmos perante uma superhipermegaestrela. Mas agora, temos de pôr de parte os elogios e sermos factuais em relação a este tipo de música que artistas como estes fazem. Em primeiro lugar, se formos a um concerto de Lon3r Johny, pouca música ouvimos. Segundo, todas estas letras são o espelho de uma sociedade absolutamente imunda. Ostentação, lúxuria. Nenhuma ou poucas alturas nas letras de Lon3r Johny, ouvimos algum tipo de força maior poética. Descanse em paz, Fausto. Mas a pergunta, será que o mainstream quer alguma coisa com conteúdo? Vamos à rádio e às playlists e vamos encontrar cópias de cópias, todas com um produto manufaturado, altamente industrializado e simplesmente monótono de um ponto de vista eu diria musical. É literalmente música para fritar batata, é sem conteúdo, vazia e tremendamente inócua. É como se puséssemos literalmente todos os futuros cientistas e grandes estudantes universitários do nosso país à frente de um autêntico “trolha de palavras”.
Não a sério, as coisas mais absurdas ditas estão nestas canções e o povo adora. É isto que está literalmente a gerar riqueza a artistas como Lon3r Johny o que considero preocupante a vários níveis para a nossa preservação literária da canção. Somos todos humanos e o Lon3r Johny também, e tenho de dizer apenas o seguinte. O respeito que eu tenho por este artista aumentou exponencialmente porque estes são artistas que pouco estão-se a importar se uma canção é boa, se está bem escrita, se tem um valor sentimental importante... É música que vende! É música que dá dinheiro, e é para isso que as pessoas vivem, não é verdade? Pelo dinheiro. Por isso, se formos por aí, temos de considerar Lon3r Johny como o artista mais relevante da era moderna, com números absolutamente catastróficos e com um following que quase parece um autêntico estádio de futebol, e é muito possivelmente lá que vamos encontrar Lon3r Johny muito em breve. Mas antes disso, vamos ainda desmembrar mais o mainstream. Olharmos para estas letras, fazem-me lembrar um ovo estrelado, não é uma refeição de caviar nem nada parecido. Faz-me sim lembrar uma daquelas refeições rápidas de microondas que vendem mesmo bué e que alimentam esta gente. A sério, as pessoas estão-se literalmente a cagar, é música estilosa, o beat chega e mais, canções como “Porshe Turbo” espelham literalmente a pura das riquezas que estes artistas conquistam com canções que usam apenas uma ou duas letras nas canções e que não dizem literalmente mais nada a não ser o título da canção. São canções que fazem grandes compositores como sei lá, Zeca Afonso, darem voltas no caixão. São o tipo de canções, que mesmo transbordando de liberdade, fazem-nos questionar simplesmente o porquê das coisas estarem como estão, porque não temos um pingo de critério a escrever canções ou sei lá, alguma decência... O controlo de qualidade é quase inexistente, mas estamos a esquecer-nos simplesmente de uma coisa muito importante. O Lon3r Johny é literalmente um artista que sabe agradar o seu público! E é este público que dá dinheiro! Miúdos do secundário, crianças jovens, e até os inbetweeners adoram! Isso é surreal, lembrando que Lon3r Johny é um artista com uma carreira inteira pela frente. Eu estou a criticar apenas porque tenho de ser honesto, há pessoas que podem não gostar do Lon3r Johny e eu tenho de simbolizar e representar essas pessoas de forma coerente, mas a verdade é que não interessa mesmo se gostamos ou não de um artista quando este chega-se a uma sala como sei lá, o Capitólio totalmente esgotado. E vamos presenciar algo mais poderoso ainda, Lon3r Johny é a voz definitiva da Geração Trap, e os próximos concertos vão ser melhores e maiores. Quando Lon3r chegou ao palco no Sumol Summer Fest, duas coisas muito interessantes aconteceram. Uma sensação enorme de grandeza aconteceu diante de nós, de estarmos perante um artista de absoluta classe mundial. De estarmos perante um artista capaz de esgotar arenas por todo o mundo. E de mais importante, um artista capaz de esgotar um estádio daqui a uns anos. Ele entrou em palco com uma atitude rockeira a redefinir por completo o conceito de rock. Um guitarrista com uma guitarra distorcida bastou e foi mais que suficiente para literalmente atraiçoar um festival como o Sumol Summer Fest, que é um virado para o Trap e o R&B, num autêntico concerto de Punk. E isto é understatement. No dia 6 de Julho de 2024, apanhámos Lon3r numa moral absolutamente fatal nesta noite, e ele não parou um só minuto. Avançou com títulos obrigatórios na sua discografia, como “Death Note”, onde vemos aqui uma autêntica aderência eletrizante de fumo lacrimogéneo. São absolutos teardroppers para todos os críticos, haters e naysayers que duvidaram que Lon3r Johny algum dia, podia estar como evidentemente está, no topo do rap game atualmente. Não seríamos nós a discordar desta máxima, e aconteceu ainda mais coisas interessantes nesta nossa observação em Pedrouços. Ao vivo, embora não se entenda praticamente nada que Lon3r diz, porque não precisa, porque os seus fãs completam os seus versos completamente, vimos um artista confiante ao vivo, sem medo
de ser destemido ou de ser franco. Mas as críticas têm de ser reconhecidas, e faz parte. Lon3r Johny é tudo que está de errado com a música hoje. Aquilo que vai parar às rádios é literalmente uma gaja feia com um rabo grande. É isso que eu sinto quando ouço a música de Lon3r Johny, no sentido em que hoje em dia, basta pormos um beat que bata mesmo bué, que esteja a vibrar mesmo bué, que esteja a concentrar mesmo alta vibe, alta energia. O resto é merda e não importa literalmente o que qualquer crítico diz porque o público já ficou conquistado com o beat. Um beat que penetre mesmo, que consiga diretamente da base, do ínicio ao fim, cativar o público. E quando tens este tipo de oferta, podes dizer qualquer coisa eu juro por tudo que isso vai bater bué, ainda para mais se tiveres uma equipa de MGMT a compactuar com o teu produto e a dizer-te “ya, vamos pôr isto aqui e isto ali e vais bater enorme sucesso e pagar-nos a todos e vamos todos morrer felizes hoje e renascer e andar rich e fazer tudo bem”.
Eu não vou ser hipócrita, eu vou dar todo o crédito do mundo a um artista como o Lon3r Johny e dizer-lhe apenas que sinto que este é um artista diferente. Diferente dos compositores pobres a escrever canções. Diferente dos músicos que estudam durante anos para aprender a arte. Diferente de todos os cantores que cantam nota a nota e que tocam piano de olhos fechados e estas coisas todas. Diferente de todos os rappers que esforçam-se diariamente para impactar o seu ambiente, a sua classe social, a sua raça e acima de tudo, para dignificarem, valorizarem e homenagearem a cultura e a língua portuguesa. É um artista diferente também de grandes poetas que tanto trabalharam para levar este conceito de poesia aos quatro cantos do mundo. Mas eu estou-me literalmente a cagar: Lon3r Johny é um dos artistas mais importantes do século por um motivo e uma só razão. É um artista que transpira o sonho de viver da música como qualquer adolescente imagina e por ser uma inspiração para fãs um pouco por todo o mundo, merece ser celebrado sempre que faz música nova. E isto é só o início. Lon3r Johny já não é o fã dos seus ídolos, é colega deles. Isso diz tudo.
Lon3r Johny é interplanetário. Lembra Beastie Boys, Limp Bizkit, Eminem e Lil Peep tudo no mesmo pack, mesmo que muito mais mumble rapper, é rockeiro e especial.