04 Nov
04Nov

Redação


Escrito no dia 4 de Novembro.

Editado às 06:20.


Beatriz Ramos (esq.) e Ricardo Ramos (dir.), este com uma t-shirt dos próprios The Dirty Coal Train.


2 de novembro no Barreiro Rocks, previa-se uma enchente. Não pelas condições atmosféricas que decidiram dar tréguas naquele dia, não pelo preço das cervejas, não inteiramente pelo cartaz que o festival oferecera às centenas de pessoas que deslocaram-se até aos Ferroviários e tão pouco pelo rescaldo do jogo entre o Benfica e o Moreirense... Isto é o Barreiro Rocks, o único festival do país capaz de reunir num só espaço    algumas das personalidades mais fulcrais do Rock 'n Roll feito em Portugal e não só... Previa-se uma enchente. A incerteza e expetativas de Alguma Cena já há muito tinham sido dissipadas, mesmo muito antes de Alex D'alva Teixeira e Ricardo Martins subirem ao palco para apresentar este novo, desconhecido e entusiasmante formato. "Nem nós sabemos o que esperar do concerto de hoje", confessava Alex, frontman dos D'alva horas antes do concerto que ali dava lugar aos trajes formais e ao discurso popular para assentar nas suas verdadeiras raízes rock. Hoje um dos elementos mais proeminentes da cena musical portuguesa, Alex cresceu à volta deste clima cinzento e gaseado que elabora toda esta característica e invejável atmosfera de Barreiro Rocks. Energia crua e imberbe recristianizava tempos das bandas de garagem que o mesmo protagonizava.


De um já extenso leque de colaborações, o Barreiro Rocks viu Ricardo Martins partilhar palco com o seu amigo Alex pela primeiríssima vez.


 Nunca sozinho, sempre com os amigos à volta, uns nas bancadas e outros no palco. Isto quase um ano após Alex e Ricardo terem libertado vários teasers para fora, ameaçando uma possível nova compilação de canções originais. "Tudo que tocarmos hoje provavelmente fará parte de um trabalho futuro que já podia ter sido lançado antes" revela Alex, que reitera: "As coisas simplesmente acontecem, quando existe essa vontade o tempo deixa de ser um obstáculo".


Alex D'alva Teixeira havia editado o 2º aguardíssimo disco de D'alva apenas semanas antes.



A noite continuou a deambular entre o hardcore e o punk pop de Fugly & Vaiapraia e as Rainhas do Baile, adaptadas ao mesmo formato com a entrada de Candy Dias em substituição à sempre estimada Lucía Víves, que reside em Amsterdão para prosseguir estudos universitários. Em tempos de conflitos entre Igualdade e Liberdade, Vaiapraia provou ali naquele palco o porquê de ser um dos porta-estandartes da Queer em Portugal. Rock sem abecedários com a matéria acordada.  No fim, uma lição: Não precisas tocar uma guitarra para fazer ruído.


Pedro Feio, fazendo o som de Fugly ecoar pela primeira vez neste venue.


Por outro lado, do outro lado da velha terra de Lusíadas, chegam-nos os Fugly, do Porto. Sem muitas cerimónias apressam-se a tocar canções de "Morning After" (2016) e do novíssimo e aclamado "Millennial Shit".


Nascido em Setúbal, Rodrigo já tinha tocado Vaiapraia no Barreiro em Junho, na ADAO.




De volta ao bar, onde tudo parecia realmente acontecer, os Sun Blossoms começaram a soar apenas segundos após atuação de Vaiapraia. No Bareiro, estavam Alexandre Fernandes, o rapaz por trás da banda que editara um trabalho homónimo com a Revolve em 2016; Os experientíssimos Alexandre Rendeiro (Alek Rein) e Luís Barros (Filipe Sambado, etc.) acompanhados de Chaby Mendonça (Mighty Sands).


O pós-adolescente Alexandre Fernandes é conhecido por manter Sun Blossoms por trás de persianas quase sempre fechadas...


 O concerto começava com "Take My Gift" de novo, muito aguardado primeiro longa-duração que poderá aparecer no início do próximo ano. Barreiro também foi uma excelente oportunidade para Alexandre Fernandes estrear novas canções de novo LP como o inquietante "Hageshii" ou refletivo "Sun Bath", entre a melancolia da lo-fi de 90's e a franca distimia dos novos millennials rockeiros da Captured Tracks ou Carpark Records.


LDT imperiais sobre um publico português rendido.



A corrente levava-nos de volta para aquele que seria um dos momentos chave da noite, começando pela atuação de Louder Than Death, mais uma eperiência de laboratório de King Khan depois de notórias bandas com BBQ ou Shrines. Esperava-se uma volta por clássicos como "Bite My Tongue" ou "Born To Die" mas não se podia descartar o recém editado homónimo colaborativo com Sean Spits (Março, 2018), contendo temas como "ABCS In Old Berlin" ou "New Stains";


Conchita Coltraine ainda a tempo de festejar o Halloween.


Acabando com a atuação de Tiger Picnic, já no bar dos Ferroviários. Duo composto pelo Reverendo Jesse Coltrane (Ricardo Ramos) e Conchita Coltrane (Beatriz Rodrigues), banda satélite de The Dirty Coal Train, nomes lendários do género. Tiger Picnic haviam editado em Janeiro de 2017 "Oh não! Asshole e agora? Capitão Piça" e foram tocando canções desse LP assim como outras raridades.


Reverendo Coltraine visto também na banca a vender LP's e Mercadorias de bandas.



Não se vê coisas destas todos os dias. O Barreiro Rocks mantém a mesma consistência que revela influenciar gerações (uma grande percentagem de público base situa-se entre os 16 e os 29 anos) enquanto encontra novas formas de se tornar dinâmica e tão inovadora como a primeira edição. Preserva uma urgência acutilante salientada nos pequenos detalhes que o tornam numa experiência excepcional que estende-se muito além da música. A sua estrutura baseada em fundamentos antiquados mas não menos importantes como a união, solidariedade, camaradagem e/ou confiança tornam-na numa das mais resistentes de sempre, daí a sua 18º maratona... Hoje, Barreiro Rocks não é só um dos festivais mais consagrados do país: a sua eclética ambiência, o seu ímpar público e o seu cartaz crescente capaz de homenagear lendas do género estando sempre a par dos correntes e das novas esperanças, colocam o Barreiro Rocks numa linhagem de classe mundial incomparável. 



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