30 Dec
30Dec

Foi um ano interessante. Mas há coisas que por esta altura da cronologia simplesmente já não podiam acontecer. Há uma descriminação, ainda, feita por grandes meios de comunicação entre artistas independentes e o chamados "artistas assinados", sim não me façam começar! Pessoas como eu, Sara Ribeiro da Offbeatz ou aquela miúda que francamente não me lembro do nome e não vou pesquisar porque quero escrever este texto num take, tou com sono, andamos a lutar para puxar a música underground para a frente, só para ser dizimados por estes porcos elitistas de primeira? Por favor, as rádios também não ajudam... Parece que só aceitam material se estes vierem de uma editora estabelecida, aliás, o locutor mal dá-se ao trabalho de ouvir o raio da cassete, põem o estagiário a ouvir as bandas novas, o raio do miúdo que anda a buscar cafés do starbucks e a estudar medicina e que tem o sonho de ser locutor tem como hobbies "dar longos passeios no rio e a sua banda preferida são os 30 seconds to mars", como é que este ser alguma vez será capaz de julgar rock n roll?

Por mais que me divirta muito a escrever estes textos está na altura de passarmos para formalidades, 2017 foi um ano fantástico em termos de música portuguesa e 2018 continuará a sê-lo. A única coisa que desejo para o próximo ano é que haja uma maior cooperação, tolerância e entre-ajuda entre os grandes meios de comunicação, produtoras, agências para com artistas independentes, ajudem-se uns aos outros a difundir o raio da música! Pensem nisto como se fossemos a Bundesliga, entre 20 equipas do escalão principal todas elas têm de incluir pelo menos 10 jogadores das canteras/equipas B na equipa principal, este tipo de pensamento progressivo só vai fazer mais bem do que mal. E apoiem mais as bandas nacionais, saiam de casa, vão dar uma volta! Apoiem-se uns aos outros, enriqueçam! Usem preservativo, protejam-se do frio e do calor, tomem banho pelo menos duas vezes por semana, escovem os dentes pelo menos três vezes ao dia... Esta ultima é super importante já agora. Voltem vivos para casa dia 1 de janeiro de 2018, capishe? Estes são os 20 melhores discos do ano:


20º

800 Gondomar - Linha de Baixo

Certamente não era o disco que espera ouvir de Gondomar, "Circunvalação" era uma promessa de caos sônico do início ao fim. Entre faixas anárquicas e insuportáveis a nível humano (auditivo desculpem) encontramos coros, melodias, desabafos de amor... Não é o punk mais feroz do ano, mas é certamente um dos melhores do género e a continua prova da infinita benção garageira proporcionada pela Pointlist.


19º

Primeira Dama - Primeira Dama

Outro disco que muda totalmente a sonoridade de trabalhos anteriores mas sem necessariamente reinventar-se... Primeira Dama aqui soa a uma réplica das suas eternas influências, não serei eu a justificar a afirmação. Mas o disco representa uma expansão óbvia também, grande o suficiente para chegar a esta lista. 


18º

Putas Bêbadas -  Orgulho de Ex Budz

É tão mau que chega a ser brilhante...I mean não me levem a mal, começando pela capa até  ao Autotune desafinado, a audacidade lírica, o ruído experimental desajustado... Putas Bêbadas estão numa lane apenas deles e esse mérito ninguém pode tirá-los.


17º

Genes - Pessoas

Bitch eu fiz um disco gravado com um microfone nojento, manipulei-o de forma a soar minimamente audível, produzi instrumentais bem fixes e escrevi barras bem dope, tudo isto enquanto tava de mãos dadas com a tua miúda! Ok passei do limite... Mas agora a sério, se eu não acreditar em mim, são vocês?! Saiam da frente. Ah e 2018 vou voltar para fazer a vida negra desses rappers. Mas eu não sou rapper tho...


16º

Éme - Domingo à tarde

Menosprezei o disco inúmeras vezes só para concluir que é mais um disco de Éme de corpo e alma. A mesma fragilidade lírica de João bem enaltecidas por melodias frágeis e tímidas com destaque para a Moxila que dá um sentido de profundidade orgânica nos seus sopros. Mas não vou mentir, algo pior gravado e idealizado que este disco estaria em posições bem mais acima nesta lista.


15º

Nooj - Videonojo

Eu não devia sequer meter este disco na lista por ser um EP mas "Videonojo" ao contrário do que o nome indica começa logo com "Por Regra" que fez-me logo lembrar bandas britânicas de pós-punk de novo milênio e tal como "Marina", este EP aparece na lista porque sempre que oiço Nooj dá-me a sensação que já ouvi o som em algum lado mas a realidade é que estou a ouvir algo assim pela primeira vez na minha vida, assim sabe-se que é uma audição frutuosa.

14º

Manuel Fúria e Os Náufragos - Viva Fúria

Viva Fúria é só mais um disco pop feito para largas audiências, com mais versos romantico-frágeis, refrões viscosos e melodias vocais mistas que dão uma sensação de cumplicidade ao longo do disco, aliados por uma masterização limpa e sedosa, lowkey um triunfo para a música portuguesa se pensarmos bem nas raízes do Manuel.


13º

Nídia - Nídia é Má, Nídia é Fudida

Para quê falar muito se o título diz tudo? Tamos assim né? Não mas a sério, mais estabelecida que isto é impossível para a Príncipe e "Nídia é Fudida" é só mais uma tour de force de samples esquentadas e afro-beats enraivecidos idealizados para um público global. Como é tuga pousou mesmo nesta lista, não está mais em cima porque temos de dar prioridade ao underground não é...


12º

George Marvinson - Chill Wild Life

É um disco de quarto e como qualquer outro traz a mesma debilidade e subtileza. Por isso é preciso gentileza a desembrulhar estas canções, no fim acabamos por ter uma experiência bem mais espiritual e introspetiva do que pensaríamos de um título tão descuidado como este.


11º

Benjamim e Barnaby Keen

Benjamim e Barnaby Keen são infalíveis aqui, dois og's da música independente chegam com confiança, soul, enigmatismo e destreza sonora para trazer-nos alguns dos sonoros mais gentis do ano e do resto da década, o facto de ser uma parceria inédita ainda a torna mais ilustre.


10º

Ermo - Lo fi Moda


A sua produção mais intrínseca e minuciosa possível fazem de Lo Fi Moda um disco do futuro, não está mais acima porque não gostei sempre dos vocais gritantes e diccícos*.


Gonçalo - Boavista

São instrumentais bem elaborados e harmoniosos mas onde os vocais de "Lo Fi Moda" poderiam ter sido facilmente dissipados, aqui seria precisamente o contrário.


8º 

Nada Nada - Dudeduderuderude

Cláudio Fernandes é a força mecânica por trás de Pista, uma banda marcada pelo ritmo dançável em constante mudança, e não há melhor maneira de descrever "Dudeduderuderude", cada beat é uma experiência mais entusiasmante que a outra.


Calcutá - Over Night

Aproveitando o mantra nordéstico de "Mighty Sands" a Teresa aqui não só dissipou qualquer ideia de sub-contribuição na sua banda como assume-se uma compositora altamente mística, uma vocalista angelical e uma criadora de melodias temáticas capazes de dar cor a qualquer disco.


Panado - Juventude Coxa

Este é provavelmente o disco mais menosprezado do ano. Com hinos infanto-juvenis gravados pela primeira vez desde "Épê", uma sinestesia trifecta fortemente apoiadas por uma das linhas de baixo mais esquizofrênicas do ano e um ritmo frenético desembalado por guitarras cortantes (bem afiadas), este é sem dúvida o melhor disco punk do ano. Decorem bem o nome desta banda, ainda vão a tempo.


Duquesa - Norte Litoral

Este é um dos melhores discos de indie rock internacionais do ano. As guitarras jangle, a gentileza por trás das composições, os sintetizadores vaporáveis... Tudo sincronizado de forma perfeitamente aprimorada. Nem parece que estamos a falar do mesmo Nuno Fernandes, vocalista de uma das bandas punk mais respeitadas do país...


Callaz - Beer, Dog Shit & Chanel N°5

Esta é uma surpresa enorme... A luxúria dos instrumentais, os vocais burlesco-etéreos, a atmosfera melancólica... Tudo isso envoltos de uma ingenuidade tremenda na hora de entregar as canções. Nota de destaque para Pedro Morrison e Ana Miró, mas a estrela é Callaz que junto dos seus versos repetitivos, hipnóticos e sonantes dão vida aos instrumentais produzidos de forma mais cuidadosa e sublime possível.


Surma - Antwerpen

Tudo em "Antwerpen" radia subtileza, dos vocais almofada sempre antémicos e cobertos, a uma produção seletiva de instrumentais futurísticos que dão uma atmosfera única aos vértices do disco.


Pega Monstro - Casa de Cima

"Casa de Cima" é um crusher... Em pleno terceiro disco a banda exibe profundidade, maturidade e tremenda vontade de fazer experiências pop que podiam revelar-se fatais, mas que dão a esta marca algo sobre o que falar durante décadas.


Disco do ano

Luís Severo - Luís Severo

 Este disco é um salto enorme desde Cara D'Anjo. A sua sensibilidade é transposta para cada canção com toda a humildade possível; Os seus contos contemporâneos dão à sua cidade temas difíceis de esquecer, numa clara homenagem mas ao mesmo tempo maldição aos costumes e hábitos de um jovem convertido em adulto a viver na capital; Os instrumentais baroque dão liberdade e desprendem a música dos rótulos "pop, indie, alternativo" usados e abusados por qualquer wannabe blogger/wannabe b fachada... Estas canções dão uma sensação de grandeza do início ao fim, sem muito esforço. Mas é isso tudo e muito mais... A este ritmo só vejo um destino óbvio para Luís Severo que estabelece uma fasquia elevadíssima para qualquer um destes novos canta-autores que têm aparecido pela cidade com resultados francamente medíocres. Em suma, "Luís Severo" é o primeiro grande legado deixado por Severo e seja o que acontecer daqui para a frente na sua carreira, este será para sempre um marco na sua discografia.


*palavra inventada

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