Catarina Soares
Luís Teixeira
Ainda estamos um bocado ressacados da noite de sexta-feira, não falo do álcool nem nada disso… (Ok talvez um bocado), mas a verdade é que com um line up destes era impossível não ficarmos embriagados com o ruído e distorção que me impedem de dormir à noite devido ao beep constante que ouço da ponta de um ouvido ao outro... Não foi por falta de advertência, nem sentido de oportunidade, mas os meus ouvidos podiam ter sido devidamente protegidos… Já falamos melhor sobre isso mais à frente. Mas hey, é o que acontece quando a ZDB decide pôr em agenda duas das bandas mais ferozes do norte a tocar em Lisboa. Isso só podia significar uma coisa, o puro caos! No entanto, essa anarquia foi feita de forma mais ordeira e respeitosa possível. Não houve guitarras partidas e ninguém foi parar ao hospital! Por pouco. Habituada a concertos históricos, como Thurston Moore, Shopping ou Ty Segall, esta noite na Galeria Zé dos Bois não ia ser diferente.
Começando pelas bandas! De Lisboa, um duo promissor chamado Moon Preachers: “Tivemos a ouvir umas malhas deles e curtimos totil, então convidámos eles para virem tocar”, explica Carolina Brandão. Vão tocar na Disgraça no inicio de Outubro com Treehouses 2290
Depois, uma das maiores exportações de Gondomar, que apresentam uma das audições mais caóticas do ano, o super hostil “Circunvalação”! Rui Fonseca (bateria), Alô Farooq (baixo) e Frederico Ferreira (guitarra) tocam um punk non-sense enérgico e cheio de pujança! Eis a resposta deles quando foram convidados para o Peido Espacial: “Nós não recusamos nada que tenha um nome desses”, como ama-mos gente assim! Houve queixas do nosso público durante o IndieotaFESTAval: “Eles precisam de ser educados, com certeza o Indieota estará a tratar disso”, responde o sempre bem humorado Rui.
Sem inferiorizar, destingir ou superiorizar ninguém, a noite pertencia aos The Sunflowers, Carolina Brandão (bateria) e Carlos de Jesus (guitarra), que iam apresentar o último, muito bem recebido disco de estreia “The Intergalactic Guide To Find The Red Cowboy”. O grupo deve ser o mais internacional de sempre em Portugal: “Tava com uns Vans todos rotos e encontro um gajo que pergunta-me se eu quero uns novos, e eu respondo “Epá Ya”… No dia seguir recebemos um mail da Vans a oferecer patrocínio”, explica Carolina.
O disco de estreia sai em vynil e cassete, pela label Cão D’ Garagem: “Sim, foi criada por nós. Nós fazemos as nossas cassetes e as cassetes de amigos e malta com um som giro”, explica novamente Carolina. Realmente não é muito comum ver uma banda editar as suas próprias cassetes: “Começou como um hobbie e será sempre um hobbie. Por enquanto nem pensamos em assumir a label, até porque com a banda e as nossas vidas pessoais isso nem é uma necessidade”, explica. No entanto, trabalhando nas sombras, a Cão D’ garagem têm editado as cassetes das bandas mais emergentes do norte, as que têm saído mais vezes para Lisboa dar concertos: “Sim é verdade e não deixa de ser curioso que uma label sem nome tenha editado estas bandas, que na verdade são nossas amigas e que tocam muitas vezes connosco! Mas sim vocês têm razão, nós entendemos a importância que a Cão D’ Garagem começa a ter em termos de edição e distribuição de discos para o sul do país”, continua a explicar Carolina. Já para não falar na quantidade de pessoas que vão conhecendo há medida que vão editando esses discos: “Sim temos conhecido imensas pessoas. Conhecemos o Pedro Feio (Fugly) quando estávamos a editar o “Morning After” e ficámos grandes amigos, já para não falar na quantidade de bandas que vamos descobrindo”, confessa Carlos. Fica aqui uma nota para uma possível expansão da label.
Moon Preachers
Chegámos atrasados ao concerto de Moon Preachers mas ficámos com excelentes apontamentos do duo de Lisboa, esperamos vê-los com mais atenção dia 8 de Outubro na Disgraça. No entanto ainda captámos algumas reações do público: "Ya vi o concerto, os gajos são bué tesudos", de um jovem que estava à frente do palco. "Ouvi Moon Preachers de um amigo que conhece o guitarrista e curti bué do som, espero vê-los mais vezes", confessa outro espetador da frente do palco.
800 Gondomar
800 Gondomar nunca iriam desiludir. Com um público muito bem instruído para estas sonoridades, não repousam um segundo, do primeiro ao último acorde de Fred. Entre um gole de Sommersby e outra risada em palco, a pancadaria começa em "Lenny" e aí é que vemos as primeiras cabeças a voar! Até os fotógrafos iam caindo entre eles. "Joelho abaixo, mão acima", era o que se gritava em "Faz o Flip" e aí vimos toda a gente em uníssono gritar com a banda, que estava totalmente empenhada e ciente da sua missão: aquecer o público para aquele que seria um dos concertos marco na agenda 2016 da ZDB. E como já disse, nunca iriam desiludir.
O cabelo do Rui até ia saltando, tinham de estar lá. É que o público reagia com violência e ferocidade aos movimentos da banda. O Alô parecia que estava a ter ataques de epilepsia... Foi lindo!
Outro momento mais marcante foi quando a banda toca "Cabeçudo", aí vemos o qual fértil tornou-se esta banda, enraizando adeptos um pouco por todo o país. ZDB, de um canto para o outro só gritava "Não sei, o que fazer! Não sei o que fazer! La La La La, La La La La! Não sei, o que fazer! Não sei o que fazer!", e aí parecia que estávamos num estádio! Isto sobre olhar atento de Ricardo Ramos e Beatriz Domingues (The Dirty Coal Train) que permaneceram atentos durante todos os concertos, Beatriz sempre muito sorridente e amável, Ricardo mais contido mas sempre afável, cumprimentando outro fã que por ali passava para cumprimentá-los.
The Sunflowers
Passando para aquilo que atraiu centenas de pessoas até à Galeria nessa sexta-feira. Vindos do Porto traziam consigo "The Intergalctic Guide To Find The Red Cowboy" disco de estreia. Antes da ZDB pisaram palcos um pouco por todo o país. Ninguém conseguia prever aquilo que estava prestes a acontecer...
Seguindo a tracklist do disco quase à risca, começaram com "Cool Kid Blues" e não houve tréguas. Empurrões atrás de empurrões, abanões de cabeças... Toda a gente começava a perceber aquilo que podia acontecer nos próximos minutos. A energia contagiante de Carlos e Carolina trespassava-se com facilidade. Seguiu-se "The Witch" e toda a gente cantou em coro "The Witch, she told me", entre mais empurrões e encontrões e tudo que possamos usar para fugir ao termo mosh. Entre a visceralidade das canções lá houve quem arranjasse maneira de saltar até ao palco e ir buscar a tão famosa alien mask que a banda insiste em levar para todos os concertos. Alguns até dizem que foi o Luís quem fiz isso.
De qualquer das maneiras vi o concerto numa lente especial, onde os meus ouvidos ficaram mil vezes mais apurados e mesmo que não conseguisse ver lá muito bem pela máscara, sabia sempre onde estava, porque quando tu conheces estas canções de cor, nem precisas de mapa.
"Mountain".Todo o ZDB elétrico, do primeiro minuto ao fim. Eram cambalhotas, crowd-surfs... Pobres fotógrafos da linha frente que quase que eram empurrados para o palco! Seguido de "Charlie Don't Surf" e sim foi uma contradição. É que no meio de todos os coros, sim porque toda a gente sabia aquela letra de cor: "Charlie Don't Surf but he smokes weed all day x2, he's got no home, he's got no job, he's got no friends but he's got his guitar! And he plays x4 all night long!", vimos o Carlos sair do palco e saltar em direção aos nossos braços que nunca o iam deixar cair. O Charlie afinal consegue surfar.
Continuando no Surfy "Post Breackup Stoner". O disco saiu há uns dias e toda a gente já conhece as letras de cor! É este o poder de influência que os Sunflowers têm: "Baby baby, you left me all alone, so I got stoned, I got stoned".
Hasta la Pizza e Zombie foram outros momentos de culto, a evolução da banda é agora mais tangível que nunca. Os Earplugs iam fazer falta agora: "Deve ser o melhor garage do mundo por esta altura", lê-se numa coluna da Pointlist. Se não é, está quase lá perto. Esta crueza não é comum em bandas portuguesas, ao vivo só conheço três a fazer o que os Sunflowers fazem ao vivo (Pista, The Dirty Coal train, Parkinsons). Estamos perante um caso de singularidade insólita.
Mais violência gratuita em "Talk Shit_ People Suck" seguido de alguns registos antigos da banda e "The Intergalactic Guide To Find The Red Cowboy" recheado de loops e repetição insuportável. Aí toda a gente já estava a deixar consumir-se pelo ruído, já víamos paralisia em alguns casos, pessoas a colocar as mãos nos ouvidos, alucinações... Aí acontece uma invasão de palco e a balbúrdia completa, finalmente toma lugar na ZDB. Isso já tinha acontecido antes em "Forgive me father, for I have sinned" outro caso do caos sónico imposto na música de The Sunflowers. Para terminar com a cover dos The Stooges "I Wanna Be Your Dog", um tributo à lenda viva que faz Carolina pegar na guitarra e Carlos passar para a bateria.
Sem surpresas. Os The Sunflowers chegaram à Galeria na sexta-feira passada e provaram aquilo que toda a gente anda a dizer sobre eles: Os The Sunflowers são um dos melhores grupos ao vivo que temos em Portugal. Ainda não os viram? Ontem já foi tarde.
Todas as fotos foram tiradas por Vera Marmelo, descubram todas as fotos deste e outros concertos aqui.
Setlist:
Cool Kid Blues
The Witch
Mountain
Charlie Don't Surf
Post Breackup Stoner
Hasta La Pizza/Rest In Pepperoni
Zombie
Cocaine Party
Spazz
Talk Shit_ People Suck
Forgive me father, for I Have Sinned
The Intergalactic Guide To Find The Red Cowboy
I Wanna Be Your Dog (The Stooges Cover)