Boogaloo Riot (2º temporada) / 1º Episódio
Hélder Menor
O disco que escolhi para o recomeço desta rubrica, na opinião de muita gente, não é o melhor disco dos Felt. "Forever Breathes the Lonely Word", de 1986 é o seu 6º álbum e decididamente o mais alegre.
Rain of Crystal Spires, a primeira canção, começa com uma linha de órgão que nunca mais me saiu da cabeça. Na verdade, o órgão é o instrumento que dá a este álbum um espírito diferente do resto da discografia da banda. Não só tem um lugar de destaque na mistura, como trabalho magistral de Martin Duffy subverte a tristeza das composições menores (de escala menor, não em qualidade) e serve de almofada à voz de Lawrence, que por todo o disco tem uma abordagem algo Dylanesca, especialmente em Down But Not Yet Out.
Em Gather Up Your Wings and Fly, as harmonias vocais, a batida e melodia que ora é tocada pelo órgão ou pela guitarra são claramente evocativas da soul, uma influência que ouvimos na canção seguinte A Wave Crashed On Rocks, talvez a canção mais triste de todo o álbum, que mesmo assim tem uma melodia tão feliz que chega mesmo a ser dolorosamente contraditória com uma letra que tem versos tão intensos como “I'm not your jesus so will you get off my cross”. Sendo os Felt uma banda de Birmingham, esta veia soul pode ser uma celebração do Northen Soul dos anos 60, e de toda a influência que a música de editoras americanas como a Motown teve em Inglaterra.
Como disse ao início, este disco não é o mais aclamado dos Felt, nem tenho a certeza de que seja o melhor porque sinceramente não os ouvi a todos. Mas a verdade é que fiquei viciado nele assim que ouvi a frase órgão que começa Rain of Crystal Spires. Este também vai ser o último Boogaloo Riot sobre bandas e artistas anglo-saxónicos. O mundo não se resume a bandas inglesas e americanas, e acho que os caracteres que me dão devem ser usados para fazer alguma diferença no mundo, por mais pequena que seja, e se conseguir pôr mais gente a ouvir cumbia e funáná tenho a certeza que o mundo ficará um bocadinho melhor.